Lynn Seymour, as lágrimas e a glória

A canadense Lynn Seymour fez história como a musa de um dos maiores coreógrafos de todos tempos. Foi para ela que Kenneth McMillan criou um dos balés considerados definitivos, Romeu e Julieta, em 1964. As histórias dos bastidores da montagem são lendárias – e traumáticas para a bailarina que, com 82 anos, é uma das lendas dos anos de ouro do balé clássico.

Lynn entrou para a escola do Royal Ballet com apenas 14 anos, depois de fazer teste com Frederick Ashton e entrar para turma onde estavam Márcia Haydée e Antoinette Sibley. Em apenas três anos entrou para a companhia, que já tinha Moira Shearer e Margot Fonteyn como suas estrelas. O talento de Lynn era tanto que chegou à principal quando completou 20 anos, com apenas três anos de companhia.

Na época, assim como as bailarinas ficavam à sombra de Margot, os coreógrafos ficavam ofuscados por Ashton, por isso MacMillan identificou na jovem a oportunidade de criar seus balés, uma vez que ambos ainda não comandavam grande público. Foi uma combinação escrita nas estrelas. O estilo da bailarina – que já lutava com o peso – não era convencional, mas a elasticidade, sensualidade e dramaticidade de Lynn se encaixavam perfeitamente com as criações (na época ousadas) do coreógrafo. The Burrow foi o primeiro trabalho dos dois, em 1958, depois veio The Invitation e Le Baiser de la Fée, em 1960.

Ser principal no Royal significa dançar todos os clássicos e Lynn Seymour estava em todos: Lago dos Cisnes, A Bela Adormecida e Giselle (no qual sua cena de loucura é incomparável). Curiosamente, foi Ashton que reuniu Lynn com seu principal partner, Christophe Gable e ao ver os dois juntos, MacMillan decidiu visitar o clássico de Shakespeare. Nascia o drama.

A primeira cena que ele criou foi o pas de deux mais famoso, o do balcão, que o cinema eternizou com a cena romântica de Momento de Decisão. Com a aceitação, Macmillan teve a luz verde de montar o balé completo. Lynn descobriu que estava grávida, mas tamanha era sua dedicação para a obra-prima que estava sendo criada que optou por um aborto.

Porém, às vésperas da estréia, a direção – pensando nas bilheterias – fez uma decisão. O par que abriria a temporada era o mais famoso da época (e da História), Margot Fonteyn e Rudolph Nureyev. O golpe foi sentido por Christophe e Lynn, que não apenas precisaram ensinar aos dois os passos criados para eles, como não fariam a estréia, algo que todo bailarino sonha. Tampouco fizeram parte do filme. Se essa humilhação não fosse a suficiente, eles só dançaram o balé feito para eles na segunda semana, depois de todos os outros principais já tivessem subido ao palco. A tristeza profunda dos bailarinos virou um dos contos mais controversos da história do Royal Ballet.

Mas Lynn seguiu como a musa de MacMillan, deixando o Royal com ele e indo para Berlin. Ele criou para ela outros balés, como Anastasia e Mayerling, ambos até hoje parte do repertório do Royal Ballet, mas eles só voltaram para Londres nos anos 1970s.

Nureyev adorava Lynn e os dois dançaram juntos em diversas ocasiões, incluindo Hamlet. Foi com ela que ele gravou Giselle (embora já estivesse bem acima do peso).

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Oficialmente se aposentou em 1981, mas ainda voltou a dançar ocasionalmente até 1989. Hoje é professora, mas sua fama e seu talento seguem inspirando muitas gerações que com Lynn Seymour aprendem de primeira mão a força da superação.

Lynn Seymour em Mayerling

Lynn como Giselle

E a Julieta original

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