Nos anos 1980s, quando ainda era pré-adolescente e sonhava com uma carreira nos palcos dançando, um filme lançado em 17 de dezembro de 1982 foi marcante e ficou comigo a cada Natal. Seis Semanas, um dramalhão sem pé nem cabeça, chupado de Love Story, contava a história de uma jovem de 12 anos que sonhava em ser bailarina. Antes de seguir, melhor avisar que teremos SPOILERS e, apesar da primeira descrição já entregar o tema, certamente ninguém (ou poucos) viu ou lembra do filme estrelado por Mary Tyler Moore, Dudley Moore e Katherine Healy. Portanto, avisados!


A história é comovente, mas simplista. Uma menina de 12 anos, Nicole (Katherine Healy) claramente precoce para sua idade, se aproxima de um político (Dudley Moore), em um momento de crise existencial, e o envolve no seus planos. Ela é filha de uma empresária do mundo dos cosméticos (Mary Tyler Moore) e as duas vivem sozinhas. O que ele logo descobre, é que a menina tem leucemia e já está em um estágio avançado. A estimativa é de que tenha apenas seis semanas de vida.
Um dos seus maiores sonhos teria sido ser bailarina clássica – tinha talento, apoio e vontade – mas não terá mais tempo. E, como toda bailarina, sonhava também em dançar O Quebra-Nozes no Natal, mas por causa da saúde perdeu o prazo para os testes. A partir daí, passa a ser o sonho do político a ajudá-la. Claro que consegue e a sequência de Katherine Healy dançando como Clara vale a hora e meia até chegar lá. Assim como a conclusão trágica da história, com a trilha sonora assinada pelo próprio Dudley Moore.



Dirigido por Tony Bill, o filme é baseado no livro de Fred Mustard Stewart, que o adaptou para as telas. Originalmente era pensado para Audrey Hepburn, depois Faye Dunaway e Jacqueline Bisset, mas todas recusaram o papel. Mary Tyler Moore, vinda de um Oscar como Melhor Atriz por um papel de mãe distante em Gente Como a Gente, abraçou a idéia de ser uma mãe oposta: carinhosa, dedicada e envolvida.
Dudley Moore, mais reconhecido por comédias, também quis o papel dramático, ainda mais que poderia – e o fez – assinar a trilha sonora do filme. Foi indicado ao Golden Globes como compositor e sempre ressaltou o orgulho que tinha de sua música em Seis Semanas,
O segredo do filme está, obviamente, em Katherine Healy, que era uma skatista e bailarina clássica iniciante na época. Mary Tyler Moore, ex-bailarina, elogiou o obvio talento da jovem com as sapatilhas e confessou que a paixão da personagem pela dança foi o que a comoveu e convenceu a fazer o filme. Infelizmente, a crítica não a perdoou e essa é considerada uma das duas piores atuações. O filme também não agradou na época e logo foi deixado para o esquecimento, tanto que é difícil encontrá-lo (hoje está disponível na Amazon Prime Video, mas apenas nos Estados Unidos).

Abandonando os patins pelas sapatilhas
Aos 11 anos, Katherine Healy era uma talentosa e famosa patinadora. Era uma estrela da patinação artística desde os seis anos de idade, tendo inspirado até livros sobre sua impressionante aptidão. Porém, para surpresa de muitos, ela não queria outra coisa que ser bailarina clássica e, tendo estudado com George Balanchine, chegou a dançar o papel de Marie (Clara) na sua produção de O Quebra Nozes, tanto em 1978 como em 1979.
Foi dessas apresentações que foi escolhida para o filme Seis Semanas, ao qual foi indicada ao Golden Globes. Se nem os ringues a encantavam, ainda menos o cinema. Katherine manteve o foco em sua dança e ganhou a Medalha de Prata em Varna (no mesmo ano do filme), chegando a Ouro em 1983, batendo o recorde como a mais jovem bailarina a conseguir o mérito (aos 13 anos).


Com 15 anos, entrou para o London Festival Ballet (hoje English National Ballet), já como Principal. Com 16 anos, foi pessoalmente escolhida por Fredrick Ashton para dançar sua versão de Romeu e Julieta. Quando voltou para os Estados Unidos, foi estudar a História da Arte em Princeton, onde se formou com mérito. O ballet continuou parte de sua vida e dançou como convidada em várias companhias, e a patinação no gelo também foi mantida.
Depois de formada, Katherine voltou a dançar na Europa (Vienna e Montecarlo), incluindo um balé criado para ela por Roland Petit. Dançou todos os papéis clássicos e, 1997, retomou a patinação artística como principal atividade. Foi casada por 14 anos com o coreógrafo de patinação Peter Burrows e passou a coreografar ela mesma após a morte do marido.


Hoje, Katherine está no corpo docente da escola do American Ballet Theatre e do ballet de Connecticut.
Para muitas meninas, sua Clara foi extremamente marcante e por isso, todo Natal, me lembro do filme. Quis partilhar essas lembranças às vésperas dos 40 anos de Seis Semanas, em 1982.



Veja aqui o talento de Katherine Healy.
E aqui a trilha de Dudley Moore.