No dia 1º de março de 1692, a indígena escravizada, Tituba, assim como a idosa Sarah Good e a mendiga Sarah Osborn foram interrogadas por um possível envolvimento em uma cerimônia de bruxaria, em Salem, Massachusetts. Essa é a data oficial do evento histórico que ficou conhecido como “caça às bruxas” ou simplesmente, “As Bruxas de Salém“.
O público lembra mais da versão ficcional escrita por Arthur Miller nos anos 1950s, na peça The Crucible (As Bruxas de Salém), mas o fato é que houve um julgamento verdadeiro, um dos erros judiciais mais flagrantes de todos os tempos, quando a religião, política e interesses escusos levaram à morte de 19 inocentes, todas condenados por “bruxaria”.


Tudo começou com um surto de duas crianças na casa do Reverendo Samuel Parris. Sua filha, Betty e a sobrinha Abigail, de 9 e 11 anos, se contorciam e gritavam sem motivo aparente e levaram o médico local, William Griggs, a concluir que se tratava de possessão demoníaca. Quando a pequena Ann Putnam se juntou a elas o processo ganhou projeção. O pânico se espalhou, afinal crianças seriam incapazes de qualquer impureza de alma e rapidamente nomes foram citados como praticantes de magia. Até hoje, nos autos do processo não há nenhuma referência de que as acusadas e as acusadoras praticavam magia juntas.

Na ficção, é Abigail que ganha protagonismo e isso porque ela de fato, como uma menina branca, esteve envolvida na maior parte das acusações. Miller descreve Tituba como uma negra feiticeira, porém historiadores, curiosos sobre essa mulher indígena escravizada e sequestrada da América do Sul, descobriram que Tituba, ao lado de John Indian e um menino, forçados a trabalhar para o Reverendo que os trouxe de Barbados.
Por não ser branca e ser estrangeira, Tituba foi a primeira acusada/suspeita. Uma vizinha, Mary Sibley, sugeriu que a mulher escravizada fizesse o que chamavam de “bolo de bruxa”, para ajudar a identificar o que estava acontecendo. O bolo é feito de farinha de centeio misturada com a urina da pessoa afligida. Depois de assado, é dado para um cão. Se ele sofrer os mesmos sintomas, é a prova cabal que faltava. Esse bolo acabou sendo foi fundamental nas primeiras acusações de feitiçaria em Salém, mesmo sem o diagnóstico ter funcionado. Mary Sibley foi questionada e liberada, Tituba não teve a mesma sorte.
Não confessou imediatamente, mas apanhou bastante e quando falou, foi criativa. Disse ter sido ordenada pelo Demônio a servi-lo e desfilou uma série de nomes em meio a histórias que mesclavam animais e espíritos. Tudo que “confessou” não teve investigação, passou a ser considerado “verdade”. Historiadores acreditam que o medo maior tortura física e da forca convenceram a Tituba que era melhor mentir do que ser punida. A partir de suas acusações, alinhadas com as das crianças, quase 200 pessoas foram citadas. Pelo menos 19 foram mortas.
Tutuba ficou presa por 15 meses em uma cela precária, mesmo tendo sido absolvida. Isso porque o Reverendo não compareceu para pagar sua fiança. Ao sair, em 1693, foi vendida para um estranho e desapareceu dos registros históricos.
É muito impressionante que 330 anos depois, a história vivida na pequena Salém ainda seja tão atual. E assustadora.

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