Era de se imaginar que o mundo do ballet, com gestos, música e histórias, fosse articular bem com o cinema, porém são artes que ainda se estranham. O filme da Netflix, Dancing on Glass, ou, no original espanhol, Las niñas de vidro é mais uma tentativa frustrada que não capta a rigidez ou o encanto da dança, recorrendo a clichês batidos.
Estrelado por Maria Pedraza, uma das atrizes de Casa de Papel, o filme é dirigido por Jota Linares e mescla Almas Gêmeas ( Heavenly Creatures), Suspíria: A Dança do Medo (Suspíria) com Cisne Negro (Black Swan), mas usando o clássico ballet Giselle, que lida com loucura, para conduzir a narrativa. Não engaja.


Começamos com o suicídio de uma bailarina e em seguida descobrimos que Irene (Maria Pedraza) “herdou” sua posição na companhia que está trabalhando em uma versão “inovadora” de Giselle.

Isolada pela inveja das outras bailarinas e pressionada pela diretora implacável, Irene se aproxima da tímida Aurora (Paula Losada), cuja imaginação fértil a ajuda a lidar com a andiedade. Porém a obsessão mútua das duas encontra oposição externa, conduzindo para tragédia.



O filme Dancers, de 1987, já tentou trazer o coração do drama de Giselle para os tempos atuais sem sucesso. No caso de Dancing on Glass é Aurora que traz o paralelo e até está ok. O que atrapalha é a atmosfera sinistra que parece imperar em filmes de balé desde Cisne Negro. Uma bailarina perdendo o equilíbrio psicológico por conta da pressão foi brilhantemente retratada em Os Sapatinhos Vermelhos, mas nem tanto no filme que rendeu o Oscar a Natalie Portman. Sim, dançar é árduo, mas jamais enlouquecedor.


A figura da professora rígida e insensível também não corresponde com a realidade. São exigentes, mas empáticos.
É uma pena que ainda não tenham acertado com um bom filme de balé. Giselle merecia mais, assim como a Dança.

