O “Crime da Escada”, bem na virada do milênio, ganhou o mundo com uma história bizarra, cheia de reviravoltas, que rendeu vários documentários, incluindo o excelente Staircase, de 2018, da Netflix. Para quem ainda não lembra, é sobre um caso jamais devidamente solucionado sobre a morte de Kathleen Peterson (Toni Colette), que foi encontrada morta e muito ensanguentada na escada de sua casa, com todas as evidências apontando para um possível crime passional cometido pelo seu marido, Michael Peterson (Colin Firth). Michael, no entanto, sempre alegou que Kathleen caiu da escada sozinha enquanto ele estava fora da casa, mas uma série de segredos e coincidências do passado dele levantam dúvidas sobre sua narrativa.


Dirigida por Antônio Campos, que no Brasil ainda chamamos de “o filho de Lucas Mendes“, o prestigiado jornalista e correspondente que se baseou nos Estados Unidos, a série The Staircase – da HBO – tem como base o impressionante documentário da Netflix, que foi rodado durante das investigações, com acesso ilimitado à casa e à intimidade de Michael durante o julgamento. Em muitos momentos, é quase uma reconstituição fiel da série da plataforma concorrente, porém com melhores atores. Também aproveita e tira um pouco do autocentrado Michael e compartilha o impacto da morte e dos segredos nos filhos do casal.
O caso é antigo, portanto não dá para dizer que o que vamos falar é spoiler. Claramente Michael Peterson parece ser um mentiroso compulsivo e manipulador mestre, com grande carisma e que consegue envolver todos à sua volta. Colin Firth está nada menos do que espetacular no papel, com os trejeitos e estilo de fala feitos com perfeição. Ao longo da investigação da já suspeita morte de Kathleen, foi descoberto que o escritor esteve envolvido nada menos do que outra morte suspeita que envolvia uma queda na escada. Com tantas versões absurdas, ou Michael é a pessoa mais azarada da face da Terra ou o maior cara de pau. Nem seus livros eram tão criativos como suas explicações para todas as mortes que o seguem. Ele admitiu a culpa para negociar o tempo de prisão.


Para a família de Kathleen, o crime aconteceu porque ela confrontou ao descobrir que o marido a traía com outros homens. No calor da briga, Michael a teria matado pelas costas, batendo em sua cabeça com um objeto pontudo. Como a cena do crime estava tão impregnada, com pessoas saindo e entrando, ficou virtualmente impossível apresentar uma prova contundente. A suposta arma do crime só foi reencontrada anos depois do julgamento, quando as evidências não eram mais claras. Ainda assim, a vida de Michael teve sua punição, a única questão é que o crime jamais foi 100% solucionado porque ele, no documentário, quer ainda manter sua inocência.



A série é, como disse, perfeita em sua reconstituição, com atuações e elenco de tamanho peso que chega a ser de tirar o fôlego, incluindo os oscarizados Colin e a francesa Juliette Binoche. As cenas são muito gráficas, cruas e chegam a assustar. Mas é a intenção do diretor. Em um mundo calmo e com cara pacífica, havia muita violência escondida.



Os três primeiros episódios estão na plataforma. Vale muito a pena conferir. Uma série com Emmy escrita em todo lado. Merecidamente.
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