Falamos tanto do nude dress que Marilyn Monroe usou no evento de aniversário de 40 anos de John F. Kennedy, a poucos meses de sua morte. Assinado por Jean Louis, com quem ela estava trabalhando no filme Something’s Gotta Give, o modelo é hoje considerado o seu mais relevante, por conta do momento histórico. No entanto, competindo diretamente com ele está a outra imagem mais famosa da atriz: o vestido branco esvoaçante que usou em O Pecado Mora ao Lado (The Seven Year Itch), esse sim, assinado pelo seu maior parceiro na moda, Norman Norell. Inesquecível.



Assim como o vestido de Jean Louis, outra peça de Norman que Marilyn usou em 1962 ganhou destaque porque Kim Kardashian também apareceu com ele no baile do MET em 2022. O belíssimo logo verde que a atriz foi vista para receber seu prêmio no Golden Globes (ao lado de José Bolaños). Uma peça que era a assinatura de Norell, considerado um dos maiores designers americanos, tendo sido pioneiro em ter sua própria marca e dar nome a um perfume, por exemplo. E trabalhar com estrelas.


Norman David Levinson nasceu em Indiana em 20 de abril de 1900. Filho de um alfaiate, foi influenciado em sua estética de design que privilegiava uma silhueta mais minimalista e sofisticada, com elementos de moda masculina, mas creditava sua mãe pelo interesse em moda. Aos 19 anos se mudou para Nova York, para estudar na Parson’s School of Design e no Pratt Institute, no Brooklyn. Sua ligação com o cinema foi quase instantânea e, aos 22 anos, depois da escola, ia para os estúdios da Paramount Pictures, em Nova York, onde acabou assinando looks para lendas do cinema mudo, como Gloria Swanson e Rudolph Valentino. Paralelamente, também desenhou figurinos para a Broadway. Joan Crawford também usou suas peças.



Sua grande oportunidade de crescer como designer veio com a Segunda Guerra Mundial. A essa altura, suas roupas tinham qualidade que se equiparava à alta costura de Paris e em tempos em que o acesso à moda francesa ficou restrito na América, as criações de Norell rapidamente ganharam relevância. Para superar o racionamento de tecido, por exemplo, Norell desenhou vestidos de chemise de cintura baixa mais finos, que lembram sua época favorita, a década de 1920. Assim nasceu seu mantra que permeou seus desenhos: menos é mais. Criou decotes simples, em V que tinham efeito emagrecedores e com designs mais conscientes do corpo. Outra assinatura sua também nasceu de oportunidade. Para os vestidos de noite, usava paillettes, que não eram racionados e o efeito brilhante, conhecido mais tarde como sereia brilhante, foram um hit. No final da década de 1960, durante o auge de sua popularidade, os modelos “sereia” eram vendidos por US$ 3.000 a US$ 4.000 e considerados os vestidos mais caros do país.
Ser minimalista não impedia a ousadia. Desde mudar o decote de maiô até introduzir as estampas de leopardo, anos antes de serem um clássico da moda, Norman sempre esteve à frente. Foi nesse período também que adotou seu sobrenome artístico, Norell, que usava parte de seu primeiro nome, o L para o sobrenome e o segundo L pela sonoridade e estética (claro).
Em 1960, comprou a empresa Traina e a renomeou como “Norman Norell”, sendo o primeiro designer a receber um prêmio Coty e o primeiro a ser indicado ao Coty Hall of Fame. Mesmo trabalhando com as maiores estrelas da época, incluindo Marilyn, sua integridade e disciplina era lendárias. Deu aulas na Parson’s School of Design e fundou o Conselho de Designers de Moda da América.


Para ele, qualidade era seu Norte. Nenhuma mudança de fabricação podia ser feita depois que aprovava um design, uma das razões pelas quais suas criações são peças vintage populares até hoje, tanto por causa de sua incrível qualidade como o design clássico.
Sua relação com Marilyn Monroe extrapolou as telas para uma amizade e parcerias pessoais. Foi com seu lindo vestido sereia preto que posou para Richard Avedon. Uma versão verde esmeralda foi o que usou no Golden Globes, em 1962. O vestido de casamento com Arthur Miller também foi encomendado a Norman, que ganhou seu segundo COTY pelo design.



Outras estrelas como Lauren Bacall, Judy Garland , Dories Day e Jackie Kennedy também eram clientes do designer.
Em 1962, Normal foi diagnosticado com câncer na gargante, uma consequência de seu hábito de fumar. Fez uma cirurgia que afetou suas cordas vocais, mas ainda viveu por mais 10 anos. No dia 15 de outubro de 1972 sofreu um infarto e 10 dias depois, morreu em Nova York.
Suas peças são respeitadas e usadas até hoje, como Michele Obama que usou um modelo seu na festa de Natal na Casa Branca, em 2010. Norman Norell acreditava que sua maior contribuição para a moda foi a inclusão de vestidos simples e sem decote. Mas com Marilyn, a sensualidade de suas peças ficou evidente e eterna também.


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