O salário que ia receber foi o que motivou a Yul Brynner a topar participar de Westworld, o filme original de 1973. O astro precisava de dinheiro e, para Michael Crichton, autor e diretor da obra, era um privilégio ter uma lenda no elenco.
Indiretamente, foi a presença de Brynner que marcou artisticamente o universo de Westworld de forma tão definitiva que viria a ser referência para franquias de sucesso e fãs apaixonados, como O Exterminador do Futuro e Halloween. O ator vive um andróide em um parque de diversões futurista com tema de faroeste. Diferentemente do reboot, que deu nome e história de origem para “o homem de preto”, no original nem nome tinha. Era simplesmente o pistoleiro que participa do banho de sangue no parque Westworld.

No filme original, dois amigos estão no parque da parte Western (tem Roma antiga e tempos medievais), sem ter conhecimento das falhas em todas as unidades onde os andróides não mais respondem ao sistema, passando a agir por conta própria. Por isso aceitam o duelo com o Pistoleiro (Yul Brynner), o homem que está sempre de preto. O andróide não apenas mata um dos homens, como passa a perseguir implacavelmente o outro. Nessa fuga, o hóspede depara com massacres humanos realizados em todas unidades do parque.
Há várias sequências hoje clássicas, como a do ácido jogado na cara do andróide, sua forma de andar e falar. Tudo exaustivamente copiado até hoje.

Ter Yul Brynner em um western moderno foi uma faca de dois gumes. O autor, fã de Sete Homens e um Destino, estabeleceu que a aparência do Pistoleiro seria descaradamente baseada em sua Chris Adams, personagem de Brynner no clássico e onde sempre estava vestido de preto. Porém, ver o astro como um “robô’, também provocou risadas na platéia. Um trauma para o diretor que percebeu que a mensagem de perigo da tecnologia e da ganância corporativas estavam sendo ignoradas ao chamarem o filme como o do “robô que enlouqueceu”. “As risadas estão nos lugares errados. Houve uma tensão extrema onde eu não tinha planejado. Senti que a reação, e talvez a imagem, estava fora de controle”, disse na época.
A atuação de Yul Brynner de fato foi extremamente marcante. O diretorJohn Carpenter, criou seu icônico psicopata Mike Meyers, da franquia Halloween, alguns anos depois, inspirado no homem de preto. Outro que veio a trabalhar no tema de tecnologia, corporações e ganância, uma década depois, foi James Cameron, que se inspirou na cena final de Westworld em O Exterminador do Futuro, usando o mesmo conceito e até ângulos para as câmeras. E sim, recomendou a Arnold Schwarzenegger a pensar na personagem de Yul Brynner quando estivesse diante das câmeras. O ator copiou tão bem que, em 2002, chegou a desenvolver a refilmagem da obra, com planos de fazer ele mesmo o Pistoleiro. O projeto foi engavetado.



Agora na versão de 2022, ter um ator versátil e respeitado como Ed Harris no papel de O Homem de Preto foi uma decisão inteligente, assim como mudar sua história. Afinal, apenas na 4ª temporada o Pistoleiro passa a ser um andróide. Na série, ele reúne em si os dois lados cruéis da metáfora – tecnologia e ganância – unindo na alma e na matéria o desvio de caráter que faz dele o grande vilão de tudo.


Como jovem, William ainda tinha inocência, bondade e esperança, mesmo que de fachada. Porém, com os jogos realistas do parque e sua paixão mal resolvida pela andróide Dolores (Evan Rachel Wood), se deixa envolver pelo prazer de matar e infligir dor, corrompendo sua trajetória de forma irrecuperável. Depois da revolta dos andróides, William passa a ser o principal antagonista pois é proprietário majoritário do parque, por isso mesmo com uma cópia perfeita sua, foi mantido vivo porque tem ainda um papel a representar.
É difícil antecipar se William terá uma redenção. Seus crimes atrozes não teriam perdão, mas ainda é efetivamente o único a poder encerrar o funcionamento de Westworld. Se conseguir ser salvo… será?


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