Como publicado em CLAUDIA no dia 02.09.22
Danny Boyle disse em alguma entrevista que ele era a pessoa certa para recontar em filme ou série, o período importante da cultura – música, moda e comportamento – que sacudiu o mundo no final dos anos 1970s com a banda Sex Pistols. Tenho acompanhado a produção desde que foi anunciada e, como foi um período que me marcou profundamente, estava ansiosa.


Para novas gerações é preciso contextualizar, e aqui está uma das armadilhas da narrativa. Explica até demais. Mas, como a caótica banda punk durou tão pouco, vou fazer a minha parte aqui. A Inglaterra dos anos 1970s estava com muitos problemas políticos e sociais, muito desemprego e uma geração revoltada com a falta de perspectiva. Nesse cenário, os jovens
punks, John Lydon – com apelido de Johnny Rotten (por causa dos dentes), Paul Cook e Steve Jones, além de Glen Matlock (que eventualmente deixou a banda e foi substituído por Sid Vicious), não eram músicos profissionais, mas queriam fazer música (ou barulho). Sob a orientação do empresário Malcolm McLaren, fizeram história. Rapidamente ganharam a reputação de caóticos e inovadores, chegaram a fazer turnê pelos Estados Unidos, onde colecionaram mais brigas e escândalos. Não foi surpresa que acabassem brigando entre si e acabando a banda. Esses dois anos e meio serão o coração de Pistol, a série que chegou ao Starplus agora.
Inspirada nas memórias do guitarrista Steve Jones, Lonely Boy: Tales From a Sex Pistol, a série tem seis partes e não é um documentário. Ao contrário, há coisas que não aconteceram, como o romance de Steve com Chrissie Hynde (que ainda ia fundar a banda The Pretenders), mas acerta ao dar destaque às mulheres do movimento punk, a designer Vivienne Westwood, a famosa Jordan e Siouxsie Sioux, além de, claro, Chrissie Hynde.

Criada por Craig Pearce (que também está envolvido na biopic Elvis) Pistol é relevante porque o caos vivido e promovido pela banda Sex Pistol influenciou profundamente a música britânica e artistas como Billy Idol (vocalista da banda Generation X), Siouxsie and the Banshees, The Dammed e outras. A série também revisa e reconta a trágica história de Sid Vicious e Nancy Spungen, e como a visão ousada de um grupo de jovens mudou o mundo. Para quem era criança vendo tudo isso acontecer, me choca hoje entender que eles era tão novos. Sid tinha apenas 21 anos quando morreu, acelerando o fim da banda.
Pistol tem uma excelente trilha sonora e uma grande reconstituição de época. Os atores estão iguais aos retratados e para quem acha que falta o punk verdadeiro, que ficou apenas uma série de jovens barulhentos, retorno a dúvida: será que o punk deles não estava apenas na maluquice mesmo? Vale conferir.

