Rhaenyra Targaryen entra no jogo. Será que a tempo?

A cada episódio da 1ª temporada de House of the Dragon dizemos ele superou o anterior. Na real, o que se deixa claro é uma estreia consistente, amarrada e engajada, que não desapontou fãs com surpresas em excesso e no entanto ainda mantém a curiosidade geral. Em 7 episódios corremos quase 25 anos em Westeros, um quarto de século no qual as sementes da discórdia foram plantadas e regadas aos poucos até que a guerra civil entre os Targaryens ecloda e custe a vida de quase todos eles.

Se em Game of Thrones dizia-se que não havia mocinhos, Jon Snow levantava a bandeira de integridade e responsabilidade acima de tudo e todos, incluindo ele mesmo. Em House of the Dragon nos dificulta torcer sem culpa porque literalmente todos estão de uma maneira ou outra comprometidos com interesses próprios, ninguém pensa no geral.

Muito se fala que o problema nasceu no antagonismo entre Alicent Hightower e Rhaenyra Targaryen, mas é a sociedade patriarcal que divide as mulheres (Rhaenys e Rhaenyra não se entendem 100%). Também se percebe que ambição demais é tóxica (Daemon, Corlys, Otto) e de menos contribui para problemas (Viserys). Quem sofre mesmo é a geração seguinte, as crianças jogadas em um universo de conflitos, hiprocrisia e acusações mútuas, que vão crescer com ressentimentos e ódios alimentados por seus pais e trazer a destruição para eles e as pessoas ao seu redor.

A ambiguidade e falta de pulso de Viserys I, um homem que quer o bem de todos, colaborou para a futura guerra civil conhecida como a Dança dos Dragões. O problema em Viserys jamais é a intenção, que é sempre correta, mas ser um homem de seu tempo. Sua única atitude moderna – declarar sua filha como sucessora em uma sociedade que não aceita liderança feminina – foi por influência interessada de Otto Hightower e por insegurança em relação a seu irmão, Daemon. A falta de convicção de sua escolha deixou Rhaenyra no vácuo. A princesa já tinha em si um fogo rebelde, mas estava resignada com seu papel. Com a possibilidade de ser Rainha, vislumbrou uma liberdade jamais imaginada, mas igualmente para a qual não foi treinada.

Rhaenyra estava presente no conselho do Rei, mas servindo aos homens. Quando falava, era calada ou ignorada. Quando tomava a iniciativa, era considerada impulsiva. Seu pai, tentando se manter popular entre os homens, contribuia para a conclusão de que uma mulher não teria a capacidade de ser uma boa Rainha. Para piorar, Otto, o grande jogador, já tinha plantado sua filha obediente e reprimida nas vidas da Princesa e do Rei. Alicent acabou catalisando a separação de pai e filha em um momento crucial para ambos, mais uma movimentação perspicaz de Otto, construindo a narrativa para o golpe de Estado com calma.

Dessa forma, órfã e sem um mentor, Rhaenyra passou a agir de fato impulsivamente, jamais considerando as consequências de seus passos (e colaborando para sua crise com Alicent, que fazia o oposto). Como público moderno, ver uma jovem desafiar a sociedade é legal, mas para a posição de uma líder, jamais a vimos se preocupar com o povo que ia governar. Aliás, a única coisa que disse é que o que povo anseia “não faz diferença”. Essa é a Rainha por quem torcemos.

Todos os erros de juventude de Rhaenyra, incluindo a noitada no bordel com o tio e a noite de amor com Ser Criston Cole, foram feitas porque ela escolheu ser feliz, mas em nenhum momento considerou abrir mão da Coroa que iria limitá-la em suas decisões. É fácil entender Alicent, olhando para esse cenário. Como consequência de ter abusado da liberdade que recebeu, Rhaenyra foi forçada em um casamento que acabou abalando a vida de outro inocente, Laenor Velaryon, um homossexual que enfrentava o preconceito paterno e se viu obrigado a entrar para o jogo.

O acordo feito entre os dois – de não julgar e manter as aparências – foi de coração, mas falho. Rhaenyra claramente encontrou amor verdadeiro com Ser Harwin Strong, mas mais uma vez se mostrou inconsequente ao ter três filhos cuja paternidade era inegável. Quando perdeu os dois aliados (o marido e o amante), se viu sozinha em um covil. Justamente está perto de assumir o Iron Throne. E de novo sua escolha reforça para o círculo externo sua imagem de insensível.

Assim, vimos no episódio 7 Rhaenyra finalmente entender que ter a Coroa não é ter o jogo ganho. Laenor virou um problema, Ser Harwin foi morto e seu pai está a poucos passos da eternidade. Os sogros não são tão parceiros, Ser Corlys sim, mas por interesse próprio. Restava o único homem que foi o motivo pelo qual ela passou a ser sucessora: seu tio Daemon. A união dos dois pode significar a derrota de Otto Hightower, mas paradoxalmente corrobora a narrativa dos verdes de que os Pretos são psicopatas, afinal na série eles se casam logo após as mortes de Laena e Laenor Velaryon. Se isso não é um escândalo, o que é? Pena que está escondendo a única iniciativa solidária de Rhanyera: libertar Laenor de uma vida de sacrifício, hipocrisia, perigo e solidão. Foi lindo que ela fez isso para ele.

Não há como questionar a legitimidade sanguínea dos puros Targaryens no casamento de Daemon e Rhaenyra, nem mesmo dos filhos que terão juntos. Agora Rhaenyra está nivelada no jogo… mas será que terá a agilidade no tabuleiro? Os Verdes têm a vantagem.

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