A máquina do tempo em The Last of Us

Para quem conhece a história de The Last of Us, o episódio em que mostraria como Ellie (Bella Ramsey) descobriu ser imune era tão ansiado como temido. E que soco no estômago, mais uma vez. A vulnerabilidade que a nossa heroína esconde, assim como Joel (Pedro Pascal), foi construída pelas perdas ao longo do caminho. Ela sonha com uma máquina do tempo, uma que a pudesse ver o que era viver em um mundo sem a ameaça do Cordyceps. Ninguém pode culpá-la.


Reencontramos Joel e Ellie como o deixamos na semana passada, ele ferido e ela apavorada. Agora é Joel quem depende de Ellie, invertendo os papéis em 180 graus. Isso porque, Joel está gravemente ferido e implora que Ellie o deixe para ter uma chance. Porém ela não aceita e ao mesmo tempo que busca por alternativas para ajudálo, é confrontada pelos fantasmas de seu passado, o que nos faz voltar no tempo e vê-la antes de ser infectada e se descobrir imune.

Órfã, Ellie vinha sendo treinada pela FEDRA, com problemas de comportamento e sentindo falta de sua melhor amiga, Riley (Storm Reid), que fugiu e provavelmente morreu. Riley volta e revela que se uniu aos Fireflies, inimigos da FEDRA, e convence Ellie a escapar para uma noite de liberdade e maravilhas dentro de um shopping oficialmente fechado. É uma verdadeira máquina do tempo, com Ellie descobrindo um universo que jamais imaginou existir (ela já nasceu em um mundo pandêmico e isolado). Acho confuso que o shopping e o episódio seja carregado de referências dos anos 1980s quando a pandemia começou nos anos 2000s, mas criativamente fica bonito e emocionante. Com Riley, Ellie é mais doce e logo vemos que é um amor como o de Frank e Bill, almas que se encontram em meio à dor.

Sendo jovens, as duas obviamente abusam da mágica do isolamento, seus ruídos efetivamente despertam um infectado e são atacadas. Mas antes disso, a sequência do carrossel (com The Cure e Just Like Heaven simplesmente preenchendo com a trilha sonora o que não precisa de palavras) e a dança ao som da versão de Etta James para I Got You Babe. Momentos singelos, tristes e importantes para a personagem.

A opressão das circunstâncias do apocalipse, ainda mais do que com Frank e Bill, elimina qualquer chance para Ellie e Riley. As duas contemplavam uma separação sofrida (Riley ia embora), mas terminam a noite aguardando morrerem juntas. Só que sabemos que Ellie não é infectada, enquanto Riley…

Determinada a não lidar com mais uma perda depois das que teve (Sam, Charlie, Tess, Riley), o episódio é o perfeito veículo para Bella Ramsey calar os piores críticos. Vemos todas as emoções de uma adolescente que teve poucas chances de fazer o que muitos fazem: brincar, andar pelo shopping com a amiga, dançar e se apaixonar pela primeira vez. As cenas são tiradas diretamente do game e aumenta a emoção. Mais uma vez, as músicas sustentam as mensagens da história, seguindo as dicas do sinal de rádio codificado de Bill: anos 80 são perigo iminente. Anos 60, o vazio (segundo Bill, anos 60 seria para “nada dentro”).

Ainda melhor do que Bella é Storm Reid que nos conecta com a crueldade das circunstâncias onde vivem. Nem o fim do mundo gerou empatia ou acabou com o racismo e tudo é colocado com muita sensibilidade com uma grande atuação da atriz. Riley “tem” que ainda fugir e buscar um lugar onde será escolhida e apreciada. O amor genuíno entre ela e Ellie é tímido e fica apenas em uma promessa. Por isso, a conexão entre Joel e Ellie, que têm uma trajetória semelhante (perderam quem mais amavam) e que escolhem seguir juntos. De mãos dadas, em confiança mútua, para eles não há mais vida se não estiverem juntos. Algo que reflete a letra de I Got You Babe, que é exatamente o que Ellie está fazendo com Joel: cuidando dele. Emocionante, mais uma vez.

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