Como publicado em CLAUDIA
Frequento o Rio2C há anos, acompanhando o crescimento do mercado ao longo de muitos anos. As palestras dão uma temperatura bem apurada no mercado e, em 2023, meu foco passou menos pelos papos de distribuidores anunciando o que vão trazer ou no que vão investir (embora tenha muita coisa boa vindo por aí!) e fui acompanhar, prestigiar e incentivar executivas que trouxeram perspectiva feminina ao evento. Em particular, foi extremamente produtiva a conversa sobre “Mulheres no Poder: trajetória, barreiras e expectativas”, que abordou os avanços e os obstáculos ainda presentes para mulheres em especial na Indústria da Música no Brasil. Saí de lá inspirada.
Entre as palestrantes estava Alana Leguth, sócia da KondZilla e à frente do movimento HERvolution, o projeto idealizado e dedicado às iniciativas femininas no mercado musical. Alana relembrou dos dias solitários como o quando levou o projeto do HERvolution para Rede TV. “O projeto era meu, era sobre mulheres e eu – deste tamanho [Alana é pequena] – era a única mulher e em uma mesa de reunião com doze homens”, ela compartilhou. “Ali entendi que assim não adiantava gritar porque não seria ouvida, só ia sair como a louca. Deixei a reunião acabar, levantei, fui embora e na hora de executar o projeto, o projeto foi executado da forma como eu quis’, completou sob fortes aplausos.
O exemplo de Alana foi mesmo um dos mais comentados entre as mulheres da plateia. Farmacêutica de formação, ela está à frente de um dos maiores canais do YouTube (mas de 65 milhões de assinantes), ao lado do marido, Konrad Dantas, a quem apoia incondicionalmente. Ela credita ao exemplo familiar para auxiliá-la em todas decisões de sua vida, profissionais e pessoais. “Fui criada num contexto de que filho é pro mundo, meus pais sempre me empoderaram muito, me incentivaram a estudar e casamento ou filho nunca foi posto em pauta pra mim”, comentou. “Nunca tive perguntas de quando que ia me casar, sobre netos. Essas questões nunca foram colocadas pra mim dentro de casa. Tive que estudar, aprender inglês, praticar esportes, me preparar para o mundo. Por isso quando entrei no mercado de trabalho, sempre tive esse posicionamento de saber quem eu sou, de saber do meu valor, de saber o que eu estudei, mas a síndrome de impostora existe”, reconheceu.

A vivência de Alana trouxe à roda vários pontos ainda muito sensíveis para nós mulheres. “É uma luta diária, porque muitas vezes você se invalida, você que se questiona ‘o estou fazendo aqui?’, acha que não pertence a esse lugar, não tem capacidade de estar aqui”, ela comentou, “Luto constantemente com isso e são muitos anos de terapia pra diariamente estar validando que posso, que tenho capacidade, que posso estar ali e que é o meu lugar”, lamenta. Mas Alana preferiu encerrar o papo pra cima, desarmando uma participante que perguntou sobre não ser um problema para ela ser constantemente lembrada que é “esposa de Konrad Dantas”. “Não me incomodo com esse título, diferente do que muitas pessoas falam”, falou com calma. “Eu sou eu sou a esposa dele, mas Sou a Alana Zeguth, sócia diretora do Conselho, fundadora do Kondzilla, farmacêutica. Sou tudo isso e sou esposa dele. Antes de ser esposa dele, sou tudo isso. Mas eu não deixo de ser esposa dele por ser tudo isso. O apoio dele pra mim foi muito importante também. Ele soube respeitar o meu espaço e ele soube me dar um espaço quando achava que não pertencia. Foi ele que falou, “vai’ e ele sempre soube deixar claro pras pessoas que aquele ali era o meu lugar. Ele sempre diz, a Alana ela faz isso, isso, isso e isso. Esse apoio deles é muito importante pra gente também. Me ajudou muito no meu processo em acreditar na minha intuição. Nós não somos loucas”, encerrou. Alguém duvida do volume dos aplausos?