Não consigo me conectar com Shiv Roy. Simplesmente não consigo. Não encontro em Roman ou Kendall uma opção, mas nem isso me faz torcer por ela. A maneira com que ela consegue exibir emoção manipulando os eventos a seu favor nã encontra limites, nem mesmo o funeral de seu pai. como resultado, conseguiu a grande vitória na guerra da sucessão. Porém, a um episódio da grande final. Nenhuma grande vitória está garantida em Succession, portanto.
Aproveito para compartilhar um potencial spoiler do que sinto que vá acontecer: Shiv será a CEO, Kendall vai se sentir destruído, mas, quem vai nos dar um soco no estômago será Roman, que estou cada vez mais receosa de seu estado mental. O fato de não conseguir ver o caixão, não entrar no mausoléu, de estar obcecado com o pai possa ser um atalho para uma decisão mais drástica. E as reações dramáticas do teaser do episódio final sugerem isso. Mas antes, vamos analisar o longo e demorado funeral de Logan Roy.
Muitos fãs se queixaram em ter que pensar em Logan mais uma vez depois de tudo que passou. Eu sou desse grupo. O funeral deveria ter entrado antes do episódio dos irmãos na Califórnia e antes das eleições. Ficou bizarro e deslocado que apenas depois disso tudo que tenham feito o enterro. Mesmo que tenha TUDO acontecido em dias, o episódio no qual Kendall teve uma vitória sobre os irmãos. Era preciso ter isso e antes da definição que nos leva agora para o ‘empate’ dos Roy e a partida final. Tirando isso do caminho, chegamos ao momento do adeus final do pai tirano que faz de Twyin Lannister de Game of Thrones um homem carinhoso, um senhor desafio, aliás.

E é esse um dos grandes problemas de Logan Roy, não há como nenhuma das pessoas mais próximas dele o elogiarem sem estarem sendo hipócritas, loucas ou falsas. Os três filhos são o melhor exemplo do estrago que o magnata fazia com as pessoas, destruindo auto estima e impossibilitando qualquer gota de empatia com ninguém. Logan criou quatro monstros, mas, em especial, destruiu os três “oficiais”. Kendall, Shiv e Roman mesclam alívio e saudade de sair da sombra do pai, e estão ainda disputando quem é o herdeiro, sendo que a sucessão não é tanto pelo dinheiro e poder, mas a confirmação da aprovação paterna que nenhum dos três teve em vida.
Enquanto Roman tem em memória as palavras finais do pai – “eu preciso de você” – Shiv ainda vive pelo dia que Logan sugeriu a mesma coisa, para depois recuar por achá-la fraca – e Kendall tenta superar a humilhação que deu início à série (quando Logan passou o bastão e pegou de volta por achar Kendall fraco). Se os Roys vacilam é porque Logan nunca os deu apoio e mais do que os desafiou, os destruiu. Tanto que não querem, pela primeira vez, o palco central de ter que falar sobre ele no funeral.
Roman pediu a vez, se preparou e estava no céu com toda a certeza de que tinha virado Logan. Tudo desanda quando o tio, Ewan Roy, com a personalidade forte que não foi transferida por DNA a ninguém da segunda geração (colocando Ewan e Logan em um lugar de conexão), fura o roteiro e sobe no púlpito para falar sobre Logan. As lembranças dele humanizam o irmão, são histórias que os filhos sequer desconfiavam e isso os deixa ainda mais vulneráveis. Como prometido, Ewan destaca que apesar de toda dureza, Logan escolheu ser uma pessoa ruim e os filhos até podem concordar, mas querem “dar o outro” lado (o que não existe, basicamente) e aí desandam de vez.
O confiate Roman vê o quanto seu discurso é infantil e distante da realidade, desabando diante do caixão em um momento no qual parecia a criança que sempre foi. Com tantos inimigos conquistados recentemente, um erro fatal mais do que uma cena emotiva. Ken é “forçado” a substituí-lo, e se sai muito bem, provocando em Shiv uma iniciativa de também subir para falar. Nada mais era sobre Logan, mas a disputa evidente entre irmão e irmã pelo Poder. E o quanto está claro que os três querem provar ter a força que o pai tinha, em vão.
Com o desafino de Roman no pior dos momentos para ele e Kendall, é o mais velho que sai à frente costurando os bastidores para tentar ainda ganhar de Shiv. Mas Ken nunca foi popular, nunca soube ler pessoas. Ele acha que está bem, mas erra na mão como sempre, em especial ao “cobrar” de Mencken o apoio contra Lukas Matsson. Sua falta de liderança – e de Roman – fica ainda mais evidente quando Greg invade a conversa, sem a menor cerimônia, seguido por Connor. Cercado de loucos, Mencken aceita a ajuda de Shiv, que é bem mais eficaz.

Shiv tem tudo mapeado e em qualquer dos lados sai vencedora. Se a Waystar Royco sair das mãos da família, vai começar outra companhia de mídia com sua fortuna. Se ficar com Matsson, e ela foi vital para o sucesso dele na negociação, quer o comando absoluto. Sem o convencer pelos atributos profissionais ela o alerta que ela é a alternativa legal para vender Kendall e Roman, o que é a verdade pois Mencken aparentemente aceita essa sugestão. A briga agora é no conselho, que pode rejeitar o acordo de Matsson ou aumentar tanto o valor da empresa que ele desista.
Chegamos então à Shiv, que tem torcida por ser rejeitada por ser mulher. Shiv sempre usa um escudo das boas intenções para vencer. Na semana passada chorou e esperneou com a eleição de Mencken porque ia destruir o país (e acabar com a sua chance de ser CEO), mas, ao ser confrontada por ele sem piscar os olhos explicou que poderia não concordar com sua política, mas que seguiria o que “a audiência” aprova. E que, de novo, a garante como CEO. Longe estão os dias que se recusou a posar em uma foto com ele. Há uma diferença entre Cersei Lannister e Shiv Roy que me faz respeitar mais à Rainha incestuosa de Game of Thrones: ela não enganava aos outros e muito menos ela mesma de quem era e o que queria. Shiv representa a horda hipócrita de milionários que se convencem que estão pensando no bem geral, que são capazes de “ajudar” as pessoas, mas que no fundo jamais tem outra meta que não seja a sua. Shiv parece estar sofrendo, mas jogou com sucesso em TODOS os momentos. Merece a vitória, só não a nossa torcida.
Eu ainda escuto nas palavras de Matsson e de Mencken promessas evasivas e fáceis de mudar, mas Shiv está tão ávida que não presta atenção. Os três Roy, como Logan definiu porque foi o autor da obra, “não são pessoas sérias”. Eles acreditam seriamente que são, sendo esse o problema.
Voltando aos meus sentimentos, não vejo vitória para Kendall ou Shiv no final, seria injusto em ambos os casos. Vejo uma tragédia no caminho de Roman, e espero que no Conselho outro nome americano surja para ser a CEO da Waystar Royco: Geri, que mesmo sendo “madrinha” de Shiv, tenha se enchido o suficiente com os três pestes bilionários.
A essa altura, até querer a ressuscitação de Logan já parece um final mais adequado…