Jon Snow: Lobo e Dragão. Fogo e Gelo. Também último Targaryen

Jon Snow foi aparentemente escrito para ser o herói de Game of Thrones, mas acabou seus dias dividindo fãs de todos os lados. Íntegro, honesto e excelente guerreiro, foi criado como bastardo na Casa Stark, enquanto na verdade – secretamente- era o herdeiro legítimo do Iron Throne. Uma ironia que deflagra até hoje discussões e que será endereçada na série Snow, caso saia do papel. E se depender de House of the Dragon, Westeros está longe da tranquilidade com um Stark como rei, afinal, o sonho de Aegon I previa que era ‘preciso’ ter um Targaryen no trono e agora não há mais trono e o único Tarrgaryen está exilado além da Muralha. Chegaremos lá.

O ator Kit Harington, que voltará a viver Jon, é quem hoje o melhor conhece, pelo menos na versão da série (no livro é bem diferente). Ele comentou sobre onde nos despedimos dele, um homem quebrado e transformando em Queenslayer (assim como Kinslayer) por amor aos Starks. “No final do show, quando o encontramos naquela cela, ele está se preparando para ser decapitado e quer ser. Ele está acabado. O fato de ele ir para a Muralha é o maior presente e também a maior maldição”, ele disse na convenção dos fãs de GOT.  “Acho que queríamos algum tipo de sorriso de que as coisas estão bem. Ele não está bem”, complementou.

A real identidade de Jon é crucial para a história de Game of Thrones e ainda o maior segredo nos livros. Foi o amor de seus pais – Rhaegar Targaryen e Lyanna Stark – desestabilizou o reino que mal se sustentava sob a loucura de Aerys , Rei Louco. Como eles fugiram, ninguém sabia o que havia acontecido e logo se acreditou que Rhaegar, um homem casado, pai de dois filhos e herdeiro do trono, tinha sequestrado Lyanna por vaidade. Nunca houve tempo para que explicassem que ele tinha anulado o primeiro casamento e que ele e Lyanna tiveram uma união abençoada e oficialmente. Robert Baratheon, noivo de Lyanna, deflagrou a rebelião que tiraria a vida e o trono dos Targaryens, matando inclusive Rhaegar. O pai e o irmão de Lyanna também foram mortos por conta do ‘mal entendido’, assim como a primeira esposa e os dois filhos de Rhaegar, igualmente assassinados. Portanto quando Ned Stark passou a ser um dos poucos a saber da verdade, não chega a ser surpresa que ele tenha mantido o segredo, como Lyanna pediu no leito de morte.

Não fosse a habilidade e curiosidade de Bran Stark de passear pelo tempo, talvez a verdade jamais viesse à tona. Ela só foi divulgada – rapidamente e no pior dos momentos – 25 anos depois, quando o reino dos Baratheons (ou melhor, dos Lannisters) estava cambaleando e Daenerys Targaryen tinha voltado à Westeros com três dragões, justamente para recuperar a coroa de sua família. Jon rapidamente entendeu o ditado de “cuidado com o que você deseja”. Ele só queria saber quem foi sua mãe, mas acabou repetindo o efeito de sua origem nas vidas de pessoas que amava. Em outras palavras: trouxe a morte com ele.

O final exibido na série Game of Thrones fez de toda história de amor entre Rhaegar e Lyanna uma das mais inconsequentes e inexplicáveis de toda saga, algo que House of the Dragon tenta recuperar e até reescrever. Era dito que Rhaegar “era obcecado com a profecia do Príncipe que era Prometido”, uma longa história sobre a luta entre Vida e Morte que teria acontecido milhares de anos antes mesmo da chegada dos Targaryens em Westeros, mas ficou estranho que 1) fosse obcecado com isso e 2) tivesse visto em Lyanna a resposta da profecia. Como a profecia foi alterando ao longo do caminho para ajustar as mudanças da história, o romance que unia Fogo e Gelo foi uma das maiores desgraças de toda franquia.

Resumindo a profecia, seria apenas o Príncipe que era Prometido que venceria o Night King por iss o arco de Jon Snow parecia ser o do salvador do mundo, talvez sacrificando o amor de sua vida para ajudar a humanidade. Infelizmente, para reverter expectativas, não foi o final que tivemos, embora ao liderar os vivos na luta contra os mortos, Jon tenha efetivamente cumprido parte de seu papel. No final das contas Daenerys entendeu que a profecia não tinha gênero e que ela era a Princesa Prometida, mas foi Arya que voou para matar o Night King. Tudo parecia irrelevante: profecias, segredos ou ambições.

Já avaliei a jornada de Jon e sua relutância em assumir a responsabilidade que era sua por Sangue. Ele certamente se via como íntegro, mas sua falta de pulso acelerou a destruição do reino e sua escolha tardia de defender os Starks à frente dos Targaryens. E acabar seus dias exilado, isolado e difamado.

A descoberta da linhagem de Jon em Game of Thrones só inverteu realmente a narrativa sobre Ned Stark. O homem que escolhia sempre o Dever antes do Amor, que não mentia nem mesmo quando sua vida estava em risco, passou uma vida com o segredo mais devastador da história guardado apenas para si mesmo. Tudo que Ned disse ou deixou de dizer ganhou outra perspectiva, inclusive seu julgamento sobre Jaime Lannister. Ned sabia os segredos e o que se fazia por amor.

Jon perdoou o tio/pai, que a seu ver fez um sacrifício moral e pessoal por amor à ele, sem jamais falhar. Ned tinha prometido revelar a verdade na última vez em que estiveram juntos e era tudo que Jon precisava saber: Ned nunca falhava em suas promessas e tinha prometido falar a verdade. Tudo isso pesa sobre como olhamos para Jon, ou Aegon Targaryen. Foi emocionante ouvi-lo confessar a Stannis que seu maior sonho era poder ser Jon Stark e foi igualmente incrível ouvi-lo dizer a Daenerys que seu nome verdadeiro era Aegon Targaryen. E no final, seguiu como Jon Snow.

Não houve tempo suficiente para que Jon entendesse o mínimo do que significava ser um Targaryen. Ele é o único que ainda pode dar continuidade à Casa, que seria extinta com Daenerys (uma vez que não poderia mais ter filhos). Mas o próprio Kit Harington analisa que ele não se vê como príncipe ou herdeiro e nem digno de ser um Stark, segue como um bastardo do norte. Honestamente? Trágico e muito triste.

Com a Profecia do Sangue e Gelo que ficou conhecida em House of the Dragon toda existência de Jon ganha outro cenário e pontencial desenvolvimento. Quando Viserys dá a Rhaenyra a adaga Catspaw (mais tarde vital na na tentativa de assassinato de Bran Stark na primeira temporada de Game of Thrones e a arma que detroi o Night King), ele explicaa importância de um dos sonhos de Aegon I, ou a profecia das Crônicas de Gelo e Fogo qu completa a do Príncipe que foi Prometido. Segundo ele, Aegon sabia da ameaça dos Caminhantes Brancos, levando a conquistar Westeros e unir o país para se preparar para a invasão. A única forma de vencer seria com um Targaryen, Aegon, no trono. Não há espaço para questionar ‘traduções’ ou machismo: a necessidade de que fosse um Aegon provocou a Dança dos Dragões e, séculos depois, a Rebelião de Robert , mas sueu questionamento levou a Guerra das Rainhas e nenhum Targaryen no trono. O Rei da Noite foi derrotado mas será que a guerra acabou mesmo?

A parte da obsessão de Rhaegar volta a ter sentido com o segredo explicado em House of the Dragon. A responsabilidade era repassada para todos os herdeiros diretos e também confirma que o conhecimento de alguma forma afetou a sanidade de Aerys. Sabendo que era sua responsabilidade assim como de seu filho, Rhaegar conseguiu ir além e decifrar que precisava igualmente ser uma união de Fogo e Gelo, por isso ele e Lyanna eram encontro de almas. Efetivamente, para justificar a integridade de Jon na sua aversão à política, a profecia nunca foi sobre governar, mas de proteger Westeros.

Suspeita-se que a conclusão dos livros encaminhava para ter mais uma guerra Civil entre os Targaryens, com Daeneyrs disputando o Iron Throne com o sobrinho . Na verdade, sobrinhos. No livro não se sabe se Jon é um Targaryen, mas o outro filho de Rhaegar teria sobrevivido e como Griff, já estava sonhando em restaurar os Targaryens no comando. Na série não houve Griff e Daenerys enlouqueceu, vingando a morte de seus amigos e a separação de Jon destruindo King’s Landing. Embora Griff possa ser um usurpador, haveria a reedição da Dança dos Dragões, algo que foi perdido.

A importância de Jon definir sua linhagem é urgente e perigosa para Bran, o rei eleito. Como Stark que nem pode ter filhos, ele ainda deixa a Coroa de Westeros vulnerável. Queria muito ter uma conclusão mais digna para Aegon Targaryen IV, ou Jon Snow. Drogon está solto e dificilmente Westeros estará em Paz. Mesmo exilado, em Snow, Jon terá que lidar muito mais do que consciência pesada, ele precisará virar o homem que nasceu para ser. Muitas pessoas perderam suas vidas para que ele fosse um Targaryen, um sacrifício que precisa resgatar sua relevância. Jon é um Targaryen. Mais ainda, é mais importante de toda linhagem. Sua missão ainda não acabou.

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