Até agosto de 2019 o nome de Jeffrey Epstein era mais uma referência de um milionário poderoso do que um criminoso à frente de uma rede de exploração sexual de menores. Seu suicídio, após ter sido preso e acusado de pedofilia, abriu a caixa de Pandora de ricos e famosos ao redor do mundo. Sua origem e ascensão misteriosas viraram assunto de matérias e documentários, mas era a ponta do Iceberg. Das duas pessoas mais influentes do seu círculo, apenas Ghislaine Maxwell pagou o pato. Ela ficou desaparecida até 2020, quando foi presa cinematograficamente e levada a julgamento. O sócio francês de Epstein, Jean-Luc Brunel seguiu o exemplo de Epstein e tirou a própria vida em 2022. Ghislaine, que alega inocência, foi condenada à 20 anos se direito a condicional.

Típico do que esse crime representa – o abuso machista e pedófilo de homens poderosos – é a mulher quem termina com a culpa e atrás das grades. Ghislaine está no lugar certo, ela não é de perto uma pessoa sem conhecimento do que fazia. Ao contrário, Ghislaine não via e ainda não vê o que estava errado em oferecer/forçar jovens menores de idade para fazerem sexo com homens com dinhero. Na sua percepção, o papel da mulher é agradar aos homens, não importa como, e se todos ganham algo da transação então ainda menos problemático. Epstein, Maxwell e Brunel exploraram jovens de todos os países e idades, destruindo vidas (algumas dessas jovens se mataram depois) e, de novo, não entendem como isso poderia ser criminoso. Mas, se dois morreram e uma está presa, por que ainda estamos falando de Jeffrey Epstein no início de 2024? Porque ainda tem muito mais.
A rede de influência que “usufria” dos luxos e vantagens que Epstein e Maxwell ofereciam era notoriamente composta de alguns dos nomes mais poderosos e famosos do planeta, de ex-presidentes à astros de Hollywood. E são quase todos oficiais porque fazem parte de milhares de páginas de documentos judiciais que estavam sigilosos até essa semana. Isso mesmo, todos os nomes estão sendo divulgados publicamente pela primeira vez, revelando os nomes que de uma forma ou outra estiveram associados a Jeffrey Epstein. De alguns cujas fotos já tinham oficializado a conexão, como os ex-presidentes Bill Clinton e Donald Trump, e príncipe Andrew, mas outros causaram estranhamento e surpresa.
A verdade é que, ter os nomes nos registros não indica qualquer irregularidade ou nem mesmo envolvimento nos crimes de Epstein. Pelo menos nem todos. Esses documentos fazem parte de depoimentos de vítimas sobre quando foram questionadas se alguma vez identificaram rostos famosos em festas, viagens ou na casa do milionário. Mas os mesmos papéis contém os detalhes sobre os abusos sexuais e Epstein alguns do seu círculo, algo que até agora não era de domínio público.
Com apenas dois lotes de documentos divulgados, quem achou que a história estava concluída voltou a perder o sono porque não apenas as acusações anteriormente conhecidas voltaram à tona como novas estarão sendo reveladas. Além de Ghislaine Maxwell, o príncipe Andrew foi um dos mais implicados nas investigações. Uma das acusadoras dele, Virginia Giuffre, fez um acordo financeiro milionário ainda com a Rainha Elizabeth II em vida, contribuindo para o afastamento oficial do irmão do Rei Charles III da Família Real. Uma dor de cabeça que não passa para eles e que de estará no filme Scoop, previsto para ser lançado esse ano.


Ironicamente, os documentos estão vindo à tona justamente por causa de Ghislaine Maxwell e Virginia Giuffre. Eles fazem parte do processo de difamação movido por Virginia contra Ghislaine em 2015, quando a empresária a acusou de mentir sobre os anos de abuso que sofreu nas mãos de Epstein e associados. O processo foi resolvido em 2017, mas os autos, com nomes e detalhes fazem parte de toda documentação, estavam sob um selo protetor que protegia as identidades das pessoas citadas. A imprensa americana, em especial o primeiro jornal a expor a rede de exploração de Epstein, o Miami Herald entrou com outro processo pela divulgação de todos os documentos selados. Em 2019, cerca de 2.000 páginas foram abertas pela primeira vez, mas ainda protegendo os nomes das pessoas conhecidas.
A equipe jurídica de Ghislaine Maxwell manteve a oposição de tirar o o bloqueio até 2022. E em dezembro, em uma decisão histórica em dezembro, a juíza Loretta Preska decidiu que alegou que não havia mais justificativa legal para manter os nomes em segredo uma vez que muita informação já era pública. Era a última barreira para desmascarar quem estaria ligado de alguma forma ao esquema ou a Epstein. Os citados tiveram 14 dias para recorrer, mas apenas dois entraram com pedido de sigilo.
Os documentos passaram a ser totalmente abertos desde 1º de janeiro. Até o momento, o depoimento de outra vítima de Epstein, Johanna Sjoberg, é o mais rico de detalhes e nomes. Ela cita ter sido abusada por Andrew, que Epstein uma vez lhe disse que Bill Clinton “gosta deles jovens, referindo-se às meninas”, que conheceu Michael Jackson e David Copperfield na casa do milionário em Palm Beach (mas que nenhum dos dois fez nada com as moças ou com ela), assim como foi com Epstein ao cassino de Donald Trump em Atlantic City. Mas também disse que nunca conheceu pessoalmente ou viu o ex-presidente na ilha caribenha de Epstein, nem mesmo vê-lo ser transportado num helicóptero por Maxwell. Clinton nega que em seu contato com Epstein tivesse tido qualquer conhecimento dos crimes praticados pelo milionário. Mas seu nome ressurgiu mais uma vez quando Virginia afirmou que ele esteve envolvido na influência para evitar que Vanity Fair publicasse um artigo sobre Epstein e as suspeitas do que estava fazendo.
Ao longo da semana, nomes de Leonardo DiCaprio, Stephen Hawkins e Cameron Diaz também circularam nas redes sociais como tendo sido citados, mas o contexto não ficou claro. Como mais documentos ainda estão serem divulgados nos próximos dias e semanas, há muito mais que para surpreender. Ligações perigosas que expõe a podridão da ganância e perversidade de ricos e famosos. Ninguém vai deixar de ler.
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