O meu problema com Arya Stark em Game of Thrones

Eu sei, eu sei, Arya Stark (Maisie Williams) é uma das personagens mais adoradas em Game of Thrones, mas eu sempre tive um problema com ela: sua sociopatia. A apoiava na busca de vingança, mas, ao se transformar em máquina assassina ela me fez pensar em Bran (Isaac Hempstead-Wright), que, em algum momento deixou de agir com empatia, impactando na minha conexão com eles.

Se Sansa Stark (Sophie Turner) teve um arco de reconstrução irritante, mas heróico, Bran e Arya foram para os caminhos opostos. Eles eram puro amor e rebeldia quando o conhecemos, mas terminaram frios, robóticos, distantes. Havia um meme circulando na época da temporada final que era perfeito para resumir a destruição dos Starks, mostrando Sansa apavorada com Jon Snow (Kit Harington), que ressucitou dos mortos, sem saber o que dizer de Bran se auto proclamando Three Eyed-Raven e estupefada com Arya dizendo que é ninguém. Nnesse cenário, ela era a única menos louca. E dos Starks, Arya foi a mais consistente com sua personalidade, uma que nunca aceitou seu papel restrito longe de aventuras. Mas ainda assim, tenho problemas com a Arya Stark das últimas temporadas, mesmo que sozinha na minha rejeição.

Arya era igual à Lyanna Stark

Arya Stark é a terceira filha de Lord Eddard “Ned” Stark (Sean Bean) e sua esposa, Lady Catelyn Stark (Michele Farley), uma que de alguma forma dava dor de cabeça para eles desde cedo. Ela era o oposto de Sansa, que adorava o universo restrito feminino e sonhava com casamento e príncipes. Arya preferia brincar com os irmãos, aprender a lutar, estudar a História de Westeros idolatrando as Rainhas Targaryens e desejar conhecer o mundo.

Arya e Bran, ainda mais do que os demais Starks, eram apaixonados e muito ligados à Jon Snow, o irmão bastardo e alvo do ódio aberto de Catelyn, que tinha ciúmes dele. No projeto original, George R. R. Martin já tinha Jon como filho de Lyanna Stark e Rhaegar Targaryen, fazendo dele primo dos Starks e assim liberado para um possível romance com Arya, ainda que incestuosamente pois era primo de 1º grau. O escritor mudou de idéia depois (do par romântico), mas manteve a ligação dos dois, algo que emociona todos os fãs ao longo da série.

A rivalidade entre ela e a irmã é igualmente deixada clara desde o primeiro segundo, ambas tão diferentes que mal se toleravam em uma relação tão tortuosa que se não fosse por interferência de Ned, Sansa poderia ter entrado para a ‘lista” de Arya facilmente.

Preferida de Ned, distante de Catelyn

Como todos na Casa Stark, Arya era muito amada pelos pais, o que faz de sua trajetória algo ainda mais devastador. Não há interação entre ela e Catelyn na 1ª temporada, de fato, Catelyn tinha dois favoritos: Robb (Richard Madden) e Bran. Nem Sansa, Arya ou Rickon (Art Parkinson) tem metade da dedicação materna, algo que os aproxima ainda mais de Ned, o paizão idolatrado da prole.

Desde cedo, para ser justa com ela, Arya rejeita a ideia de que ela deve se tornar uma dama e se casar para ter influência e poder, é fixada em criar seu próprio destino. Do tipo sincerona, Arya é íntegra e não entende de política, diz o que pensa e cobra Justiça se testemunha abusos. Para Catelyn, a ‘masculinidade’ da menina é preocupante e isso pesa na decisão de enviá-la para King’s Landing com Sansa e Ned, quando a primogênita é prometida à Joffrey Baratheon e Ned é convocado a ser Mão do Rei. Arya detesta a idéia de deixar Winterfell, mas é obediente ao pai, o único que a escuta e que ela abre seu coração.

Para Ned, ao longo da história fica mais claro, Arya é a encarnação de sua irmã falecida, Lyanna, a quem ele amava profundamente. A verdadeira história de Lyanna jamais foi explorada com profundidade, algo que fica para um desejo pois ela mudou o curso da História em Westeros, apenas Ned Stark sabia o quanto.

O ódio pelos Lannisters

Muito antes de chegar à capital vemos que Arya cria muitos problemas para Ned mesmo na estrada, atacando o covarde e cruel Joffrey para defender um amigo indefeso, enfrentando Cersei Lannister (Lena Headey) e prometendo se vingar dela e do filho antes mesmo do pior acontecer.

Quando fica claro que é melhor ajudá-la, Ned contrata um professor de esgrima para Arya aprender a lutar e foi essa decisão que a salva, mesmo que indiretamente. Em mais uma briga entre Sansa e Arya, Ned pesca uma pista que era a prova do adultério da Rainha. Arya brinca que Joffrey, loiro como os Lannisters, não se parece com o pai. A partir daí, Ned comete um erro atrás do outro (conta a verdade para Littlefinger e avisa à Cersei também). É preso e condenado à morte, mas Arya consegue escapar.

O primeiro grande trauma de Arya é testemunhar a execução do pai, que a vê na multidão antes de morrer. A menina se disfarça de homem e está para ser levada para Castle Black onde reencontrará Jon Snow, mas a viagem que ela começa a partir daí muda sua personalidade e destino para sempre. Arya Stark morreu junto com Ned naquele episódio.

A parceria com seu pai postiço, Sandor Clegane

Na viagem saindo de King’s Landing, Arya fica amiga de Gendry (Joe Dempsie), que ela não sabe mas é o filho bastardo de Robert Baratheon. Entre os dois há um companheirismo e amizade, ambos cientes que estão fingindo ser outras pessoas e tentando escapar da fúria dos Lannisters. Arya aqui descobre que a única forma que tem para dormir é recitar para si mesma a lista de pessoas que quer matar, que já está longa.

Em Game of Thrones os perigos são constantes e desviam boas pessoas de seus caminhos. Arya não é excessão. A viagem para Muralha é interrompida pelos conflitos usuais de Westeros: assaltos, ataques, crueldade. Para sobreviver é difícil, acabando mais de uma vez prisioneira de seus inimigos, incluindo Tywin Lannister (Charles Dance), que não a reconhece e adora Arya.

No longo trajeto, Arya conhece Jaqen H’ghar (Tom Wlaschiha), um assassino preciso de Braavos e treinado pelos Homens Sem Face. Arya se interessa em aprender essas habilidades e promete um dia ir encontrá-lo.

A jovem tenta ajudar seu irmão, Robb, que está em guerra com os Lannisters para recuperá-la e vingar Ned, mas não consegue. Para piorar, acaba ‘sequestrada’ por Sandor Clegane (Rory McCann), o Cão, que está na sua lista de mortes. A relação dos dois é de desconfiança mútua, duro aprendizado, mas em sua tortuosa e cínica forma, o que ele está mesmo fazendo é proteger Arya. Enquanto esteve em Westeros, ter a proteção do Cão foi essencial para sua sobrevivência, mas ela não reconhece isso e eventualmente consegue ir sozinha para Braavos.

Em duas temporadas, embora exposta à violência e frequentemente em risco, Arya é ainda simpática aos torcedores dos Starks, a que tem o espírito inabalável de buscar vingança por sua família, sem jamais perder esse foco. Aqui, mais filha de Catelyn do que de Ned, com o ódio superando qualquer resquício de integridade.

Arya só desiste de encontrar Jon e ir para Braavos porque ela aprendeu com Sandor que enquanto não fosse uma assassina, não estaria segura ou apta para proteger os Starks. Se já era uma nova Arya, ela embarca para uma redefinição de personalidade que é onde eu vejo seu principal problema.

Cega pelo ódio, literalmente a visão de Arya muda em Braavos

Arya é uma jovem ‘sem modos’, mas ainda reflexo de um berço de ouro quando acha que ao chegar em Braavos será bem recebida por Jaqen H’ghar, treinada e liberada para poder reduzir sua lista de nomes cada vez maior. Mas o processo de transformação em alguns momentos é lento, frequentemente é violento, e Arya está sempre sendo testada. E errando. Os Sem Face adoram o Deus da Morte e têm uma doutrina estranha, que tem uma faxada filantrópica quando se trata apenas de assassinatos por dinheiro.

Em um dos momentos mais singelos da série é quando Arya tem de desfazer de tudo que trouxe, inclusive a espada Needle, que ganhou de Jon antes de deixarem Winterfell. A meta era deixar de ser Arya Stark e virar Ninguém, mas ela não consegue. Esconde a espada e passa por tudo que tem que passar até que em vez de servir, elimina um de seus algozes de King’s Landing por conta própria, perdendo a visão como consequência.

Não ver e ter que se virar ainda assim torna Arya em uma espécie de imortal letal. Ela pode ser esfaqueada, mas pula janelas, corre pelas ruas e ainda sobrevive. Ao fim de tudo, Arya decide que está pronta e que vai para Winterfell.

Tinha grandes esperanças dessa virada, mas como muitos, ela é um tanto decepcionante.

Reencontros em Winterfell, a vingança dos Starks

Ao retornar para Westeros, Arya não tem pressa de ir para o Norte. A essa altura Joffrey saiu de sua lista porque foi morto por outro, mas ainda há Cersei e Twyin nela, o destino é King’s Landing. Ao saber da fuga de Sansa e a fama de Jon como líder no Norte, Arya muda de idéia e vai para casa. Seria um momento terno, mas há os Freys para riscar da lista e a essa altura Arya pode não ter se encaixado em Braavos, mas tampouco se sente bem em Westeros.

Os reencontros com os irmãos é estranho. Há emoção irrestrita com Jon, algum carinho com Bran, mas muitos pés atrás com Sansa, que tem em Littlefinger seu grande mentor. A frieza que era para Arya transmitir, como boa observadora, como uma assassina calculista e hábil, a deixaram tão sem emoção como Bran depois que fritou o cérebro viajando no tempo. Uma decepção.

A trama faz com que os Starks que já não tinham intimidade quando pequenos se reencontrem quebrados, traumatizados e sofridos. Sansa está mais estrategista como aprendeu com Littlefinger, Bran é Bran com as viagens dele como o Three Eyed Raven e Arya, bom Arya ficou assustadora como uma mulher que troca de rosto para alcançar sua vingança.

A única pessoa com quem tem resquícios de quem foi um dia é com Jon, mas quando Arya se opõe à Daenerys Targaryen (Emilia Clarke), apoiando Sansa, ela se distancia do meio-irmão. Os traumas que viveu dão contexto para sua mudança de personalidade, mas, ainda assim, esperava de Arya uma heroína mais empática, menos obcecada com a Morte.

Arya Matou quem não esperávamos, mas ficou devendo a vingança prometida

Não é culpa da atriz, mas dos roteiristas o fato de que queriam manter a fama de imprevisibilidade de Game of Thrones a todo custo. Passamos seis anos ouvindo Arya prometer matar Cersei e apenas dois episódios descobrindo sobre o Night King. Por que deram à Arya o duelo que era de Jon Snow e deixaram Cersei em um final triste, mas como ela queria? (nos braços de Jaime). Por que?

A última temporada de Game of Thrones é a decepção maior dos fãs que mesmo seis anos depois ainda dói. Arya era uma das guerreiras mais habilidosas na luta contra os Night Walkers e foi fascinante vê-la em ação, porém acho que vê-la matando o supostamente pior vilão da história porque ela sabia lidar com a Morte foi um truque barato de subverter as expectativas apenas pela surpresa. Não fez sentido e foi inclusive anti clímax.

Para piorar, queríamos vê-la cumprir a promessa de matar Cersei, todos sabiam que ela teria que matar Jaime também para pegar o rosto dele e enganar a rainha. Seria incrível, seria perfeito para vermos a surpresa de Cersei que nunca imaginaria reencontrar a menina viva tantos anos depois. Ficaram nos devendo essa. Irreparável.

Qual será o destino de Arya Stark?

Depois de voltar para casa e ainda assim se sentir estrangeira é mais uma prova de que Arya Stark deixou de existir em algum momento. Ela só espera a decisão pela vida de Jon, que é exilado depois da matar Daenerys, para partir para sua próxima aventura: descobrir o que há a oeste de Westeros.

Nos despedimos dela liderando uma pequena frota, navegando para o desconhecido, como uma de suas ídolas, Nymeria Targaryen. Muitos contavam que com esse final em aberto, houvesse um spin off com Arya e suas aventuras, mas a HBO jamais cogitou a idéia. Chegaram a trabalhar em uma prequel, Bloodmoon que teve apenas um piloto e foi arquivada. Estão exibindo House of the Dragon que pode vir a ter quatro temporadas e há a sequel, Snow, que ainda não saiu do papel. Antes de voltarmos com Jon Snow, teremos O Cavaleiro dos Sete Reinos, prevista para gravar em 2024 e exibir em um ano, assim como a série sobre Corlys Velaryon, Nine Voyages, sem previsão.

Em vez de acompanharmos Arya Stark, poderíamos conhecer justamente Nymeria pois um dos projetos, A Thousand Ships é justamente no mesmo destino da embarcação da jovem assassina.

A saga de Nymeria acontece cerca de 1000 anos antes de Game of Thrones e mais ou menos 700 antes de House of Dragons. Depois da derrota em Essos, a princesa Targaryen comandou todas as embarcações disponíveis no rio Rhoyne – dez mil – e as encheu com os sobreviventes, na maior parte mulheres e crianças, e comandou a fuga.

Na busca por uma terra nova, os refugiados tentaram sobreviver em alguns locais antes de se dirigirem para Dorne, ao sul de Westeros, onde Nymeria fez uma aliança de casamento com o Rei Mors Martell, mandando por fogo em toda frota para impedir desertores. Ela, portanto, leva o sangue Targaryen para Casa Martell (Príncipe Oberyn (Pedro Pascal) é seu desdendente). Esse capítulo foi usado também nos episódios de abertura e encerramento de House of the Dragon, em uma conversa entre Alicent Hightower (Olivia Cooke) e Rhaenyra Targaryen (Emma D’Arcy), sendo então outro link com Game of Thrones. Seria melhor apostar em revermos Arya?

Conheça a lista completa de Arya Stark

Você acha que lembra todos os nomes que passaram pela lista de Arya Stark? Veja aqui seus inimigos:

  • Cersei Lannister
  • The Mountain
  • Walder Frey
  • Lame Lothar
  • Black Walder Rivers
  • Polliver
  • Joffrey Baratheon
  • Rorge
  • The Hound (ela retira da lista em algum momento)
  • Tywin Lannister
  • Meryn Trant
  • Melisandre
  • Beric Dondarrion (ela retira da lista quando tirou o The Hound)
  • Thoros de Myr (idem)
  • Ilyn Payne

Incompleta, não é? Faltaram quatro nomes:

  • Littlefinger. Arya desconfiava dele, mas não tinha certeza de seu envolvimento dele na morte de Ned até Bran revelar, e aí o matou a pedido de Sansa.
  • Roose Bolton: embora tenha visto o corpo de Robb, Arya só sabia da participação dos Freys na morte do irmão, senão Roose estaria na lista, sem dúvida.
  • Ramsay Bolton: Arya não sabia de sua existência até voltar para Winterfell. Seria outro que adoraríamos vê-la eliminando, mas foi ótimo ser dado como alimento aos cães por Sansa.
  • Theon Greyjoy (Alfie Allen): Arya não soube que Theon traiu Robb e por um tempo ficou com a fama de ter matado Bran e Rickon. Sorte a dele!

Você teria feito uma lista mais longa? Gostaria de rever Arya?

Para mim ela foi um dos problemas por conta de seu sadismo e, quando reencontrou Jon, ter apoiado Sansa em vez dele e Daenerys. Assim como todos os outros, podemos argumentar que ninguém é perfeito, mas esperava mais de Arya Stark!


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