Giselle é o maior balé romântico, amado por bailarinas e bailarinos igualmente, uma pérola que resistiu ao tempo e permanece interessante. Criado em 1842, para Carlotta Grisi, a trama da obra acaba criando dois balés em um só. O primeiro ato só existe para criar a oportunidade de ter um “balé branco”, em outras palavras, um balé que remetesse à genialidade de La Sylphide, mas que não fosse plágio. Lembrei sua criação no ano passado, quando completou 180 anos.
O termo de “balé branco” é essencial para entender Giselle. Obviamente, é uma obra que tenha as bailarinas vestidas de branco como espíritos (Giselle ou La Bayadère), cisnes (O Lago dos Cisnes) ou flocos de neve (O Quebra-Nozes) e ganhou fama em 1832, quando Filipo Taglioni criou La Sylphide para sua filha, Marie, que, além de estar toda de branco, dançou pela primeira vez nas pontas dos pés. O efeito foi tão fenomenal que logo outros queriam algo parecido.



No período que veio a ser conhecido como o Romântico da dança, Giselle superou La Sylphide em tempo e prestígio. Ambos ainda são montados, mas é Giselle que todos amam mais, mesmo 181 anos depois. A proposta de Jules Perrot e Jean Coralli era a de superar o sucesso dos Taglionis, inclusive fazer com que Carlotta dançasse o tempo todo na ponta em vez de alguns momentos.
Com a intenção de ter um balé branco os dois começaram a busca pela história ideal. Foi o libretista Theóphile Gautier que conseguiu encontrar a solução, no livro escrito por Heinrich Heine, em que relata a lenda alemã das Willis, os espíritos das noivas que morreram antes do casamento e que, vingativas, atraíram homens para a floresta para forçá-los a dançar até a morte.


A proposta original de Gautier, seguindo a tendência da época de incorporar danças típicas, era ter entre as Willis, mulheres de nacionalidades diferentes, mas a ideia foi abandonada, embora já tivessem inclusive música, escrita por Adolphe Adam em um tempo recorde de menos de um mês.
A perfeição e a simplicidade da história ajudam à imortalidade da obra. No primeiro ato, há dança e mímica e, no segundo, apenas dança e beleza. Apesar do sucesso, Giselle aos poucos foi desaparecendo do repertório ocidental e foi “salvo” por Marius Petipa, na Rússia, que fez várias revisões, incluindo a que conhecemos até hoje, 1903, para Anna Pavlova. Alguns anos depois, Vaslav Nijinsky passou a dançar apenas com a meia (para não cortar visualmente a linha de seu corpo), causando escândalo mas mudando para sempre a dança para os homens.



Apesar do sucesso, Giselle saiu do repertório do ballet de Paris em 1849, com remontagens em 1853 e 1868, quando parou de ser montado no ocidente. Apenas 50 anos depois, com os russos e Olga Spessivtzeva no papel principal que voltou aos palcos ocidentais.
No Royal Ballet, Alicia Markova ensinou o papel para Margot Fonteyn, que ficou uma das mais famosas intérpretes do papel desde 1934. Aliás, considerado o papel dramático de maior desafio para as bailarinas, por causa da “cena da loucura” do 1º ato, ficou difícil eleger a “melhor” interprete. São reconhecidas, além de Margot, Galina Ulanova é uma das maiores referências como Giselle (era seu balé favorito).



A lenda conta de Maya Plissetskaya era supersticiosa e jamais dançou o papel (fez Myrtha, a Rainha das Willis), depois de uma decepção amorosa. Natalia Makarova também foi uma das melhores Giselles, assim como Alessandra Ferri, que está no filme Dancers, com Mikhail Baryshnikov. Em Momento de Decisão, além de uma bêbada e hilária Leslie Browne (que também está em Dancers), temos alguns momentos de Antoinette Sibley também. Atualmente, a insuperável é Natalia Osipova.


Quer rever versões completas?
A de 1977, do American Ballet Theatre com Mikhail Baryshnikov e Natalia Makarova
A de 1956, com Galina Ulanova
Margot Fonteyn e Rudolf Nureyev
Natalia Osipova
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