Tem os que acreditam em espíritos, tem os que respeitam a crença e tem os que tratam tudo com bom humor. Antecipando o Dia dos Mortos, que une várias cultura milenares em torno da mudança de estação e proximidade do inverno no hemisfério Norte, multiplicam-se os contos sobre fantasmas. E ninguém tem dúvida de que Castelos, onde a história certamente marcou mortes e dramas, sejam os cenários perfeitos para alimentar as lendas. A mais recente, retorna ao “encontro das Elizabeths”, as Rainhas britânicas, no Castelo de Windsor. Pois é, embora 323 anos separem a existência das monarcas, Elizabeth II teria visto o fantasma de Elizabeth I na biblioteca de sua residência em Wndsor, com o testemunho da princesa Margaret. Pena que a história não entre para The Crown…


A data para o “encontro” nunca foi revelada, mas alega-se que as “jovens” Elizabeth e Margaret estavam juntas, na biblioteca, quando ouviram passos e depararam com a lendária monarca diante delas. “Especialistas” listam pelo menos cinco fantasmas circulando por Windsor, fazendo do castelo um dos “preferidos” dos espíritos inquietos (e cenário potencial para uma sequência de Ghostbusters). Além de Elizabeth I, que curte a bilblioteca, dizem que no quarto abaixo é comum deparar com o Rei George III olhando para fora de uma janela. O famoso período “de loucura” do rei o manteve confinado entre as paredes da residência (a história virou filme em 1993, A Loucura do Rei George) e , como uma curiosidade a mais, George III era o marido da Rainha Charlotte, tão popular hoje em dia por conta de Bridgerton. Mas voltando aos fantasmas.
Porque o Castelo de Windsor tem mais de mil anos, é listado como um dos endereços mais mal assombrados da Inglaterra (cerca de 25 espíritos listados), porém podemos argumentar também que seja o mais elitista já que são Reis e Rainhas que “aparecem” ali. Além de Elizabeth I e George III, foram “vistos”: Henrique VIII, Charles I, Richard II e Ana Bolena, entre outros. Estelar!


Entendendo o “karma” do Castelo…
Como historiadores afirmam, o castelo (cujo nome Windsor não tem origem em vento (Wind), mas sim da palavra “Windles-ore” que significa guincho à beira do rio, foi a fortaleza estabelecida por William, o Conquistador, por volta do ano de 1066, 10 anos depois de sua invasão e domínio do Reino Unido. Ele encontrou no local um mote de madeira e uma estrutura de pátio, e passou a fazer parte de um anel defensivo de castelos ao redor de Londres, todos a pouco mais de uma hora de distância da capital, o que permitia que as tropas ficassem prontas rapidamente para uma defesa. O que dava ao Castelo de Windsor maior vantagem era a localização: fica perto do rio Tâmisa, era ótimo local para caça e ficava numa importante rota medieval para Londres. Seja como for, em 1110 já era luxuoso o suficiente para acomodar eventos importantes da Coroa, como casamentos e outras cerimônias, isso porque o filho de William, Henry I, foi o primeiro Rei a usar Windsor como residência e foi reformando o castelo ao longo do tempo.


Seguindo o parênteses de curiosidades: Henry I era o pai da Imperatriz Matilda, que inspirou House of the Dragon), e após o reinado do filho dela, Henry II, que aconteceu outra guerra civil, a “Primeira Guerra dos Barões”, no qual um grupo de proprietários de terras (os Barões) confrontou o rei John (irmão de Ricardo Coração de Leão e bisneto de Matilda) e o conflito só acabou com a assinatura da Carta Magna. Isso mesmo, aqui estava o rei que lidou com Robin Hood.
Portanto, aos poucos, o que era um “castelo de madeira” logo foi convertido em um “castelo de pedra”. Seu ápice, no entanto, veio no reinado de Henry III, que adorava o local e gastou fortunas remodelando Windsor, adicionando um palácio de luxo dentro das muralhas. A Capela de São Jorge, que já sabemos que é mais do que uma “capela”, foi um projeto de Edward III e hoje vários monarcas britânicos estão enterrados ali, incluindo Elizabeth II. Os trabalhos de melhoria chegaram ao período dos Tudors, com Henry VIII e Elizabeth I usando Windsor como corte real e centro de entretenimento diplomático.
Infelizmente também foi o cenário da prisão e execução do único Rei inglês a ser condenado à morte – Rei Charles I – durante a guerra civil de 1642 a 1651. Fiéis à Coroa (Cavaliers) perderam para os Parlamentares (Roundheads), que prenderam Charles em Windsor, em 1648, e o decapitaram um mês depois, em Londres. Seu cadáver (e cabeça) foram devolvidos ao Castelo e estão enterrados na Capela de São Jorge, ao lado de Henrique VIII, Jane Seymour, e vários outros monarcas. O filho de Charles I, Charles II, recuperou o trono em 1660 e imediatamente se mudou para o Castelo de Windsor, fazendo mais inovações como criar um conjunto de extravagantes interiores barrocos.

No século 18 o Castelo foi meio que abandonado, mas os reis George III e George IV voltaram ao local, recuperando o local. Durante a Segunda Guerra Mundial, a Família Real usou Windsor como refúgio e adotou seu nome como o de sua dinastia. Isso mesmo, os “Windsors”, que estão no Poder, devem ao castelo mal-assombrado o seu nome.
O incêndio de 1992 foi devastador, mas o Castelo foi recuperado e passou a ser a residência de fim de semana da rainha Elizabeth II até 2020, quando ela se isolou no local durante a pandemia de Covid-19, fazendo de Windsor sua residência permanente.
Diante desse histórico, alguma dúvida sobre a fama de mal-assombrado?
Os “fantasmas” que não deixam Windsor
Henry VIII
O fantasma do pai de Elizabeth I é um dos mais famosos do castelo. Vários funcionários e visitantes relatam ter ouvido o Rei chorar nos claustros do castelo, além de ter sido visto vagando pelos corredores, gemendo de dor e arrastando sua perna ulcerada. Seus gritos são ocasionais, mas é descrito como um fantasma grande e furioso.
Ana Bolena
A mãe de Elizabeth I, esposa condenada à morte a mando de Henry VIII, acusada de bruxaria, traição, adultério e incesto, foi decapitada na Torre de Londres, mas seu corpo foi encontrado enterrado na Capela de São Jorge. Dizem que foi vista no Claustro do Reitor no castelo, espiando por uma janela, triste e chorando.


Rainha Vitória
O fantasma da rainha Vitória é dito como “descontente com as alterações feitas no castelo”, em especial as lideradas por seu neto Edward VIII, que queria remover uma árvore genealógica a pedido de sua esposa. Quando os trabalhadores estavam prontos para tirar sua árvore, Vitória teria aparecido do nada, gemendo pesadamente e acenando com os braços, assustando de tal forma os funcionários que se recusaram a terminar o trabalho. A árvore ainda está de pé.
Elizabeth I
Com seus pais vagando por Windsor, não chega a ser surpresa que Elizabeth I seja um dos muitos fantasmas do castelo. Como citamos, ela assombra em particular a Biblioteca Real, mas também foi vista em uma janela no Claustro do Reitor usando um vestido preto e um xale nas costas. Sua chegada é sempre anunciada pelo som de passos pesados no piso de madeira e anda pela sala antes de desaparecer novamente. O primeiro relato de seu fantasma é de fevereiro de 1897, quando o tenente Carr Glynn, dos Grenadier Guards, estava sentado na sala externa da biblioteca da rainha e uma senhora vestida de preto passou por ele. Intrigado com a semelhança da mulher com os retratos que ele tinha visto de Elizabeth I, Glynn a seguiu, mas não conseguiu encontrar nenhum vestígio dela, mesmo sem outra saída do ambiente. Isso mesmo, Rainha Elizabeth II e a princesa Margaret não foram as únicas que a viram. O rei George VI também afirmou ter esbarrado com Elizabeth I nada menos do que por “oito noites seguidas no mesmo lugar”, no início da Segunda Guerra Mundial. (Esse foi um homem corajoso de ter ficado em Windsor depois disso…)



Rei George III
Tendo ficado confinado no castelo, especialmente durante seu período de loucura, também não é surpresa que o espírito de George III que seja visto olhando tristemente pelas janelas e portas da biblioteca. Reza a lenda que, quando vivo, todos os dias ele passava pelos guardas e respondia à sua saudação. Quando morreu, não foi enterrado imediatamente e ainda quando estava sendo velado um dos guardas passou pela janela e inequivocamente viu a figura do rei. Instintivamente, o guarda o saudou, com o fantasma do Rei saudando de volta. Assim que se tocou do que estava acontecendo o soldado “morreu de susto”? Não sabemos. Sobreviveu para dar fama ao fato.
Charles I
Apenas quem não entende um espírito decapitado que acha estranha a história do fantasma de Charles I. Quando seu corpo (e cabeça) foram entregues para serem enterradas na Capela de São Jorge, uma nevasca repentina caiu sobre seu caixão coberto de preto, que estava sendo carregado em direção à capela. Só que o dia tinha céu claro e sem nuvens até justamente aquele momento. Como a mortalha sobre o caixão ficou completamente branca, alguns súditos viram isso como um sinal divino da inocência do rei e, desde então, várias pessoas o viram ocasionalmente na Casa do Cânone nos recintos do Castelo.


Herne, o Caçador
Nem todos os fantasmas são da realeza. Herne era o caçador favorito do Rei Richard III, em especial depois que ele salvou a vida do rei numa caça, mas foi ferido mortalmente. Segundo a lenda, Herne foi curado por feitiçaria. Mas, isso veio com um preço. Um conjunto de chifres cresceu de sua cabeça, embora seja difícil que tenha acontecido assim com Herne sendo o homem de confiança do monarca até ter sido acusado de roubo. Expulso e humilhado, dizem que Herne se enforcou em um carvalho e a cada inverno, seu fantasma voltava à árvore no Home Park.
Em 31 de agosto de 1836, o carvalho (conhecido como Herne’s Oak) caiu, com as toras sendo queimadas no Castelo para garantir que o fantasma de Herne fosse queimado junto, mas uma tora não queimou. Com o material, foi esculpido em um busto de Shakespeare e Herne é mencionado em sua peça “As Alegres Comadres de Windsor” . O busto de Shakespeare pode ser visto no Windsor and Royal Borough Museum no Guildhall. Nunca mais ouvimos falar de Herne, graças à Deus, embora há versões que seu fantasma apareça no parque de vez em quando.


O Duque de Buckingham
Acredita-se que George Villiers, o duque de Buckingham suspeito de ter sido amante de Jaime VI, assombra um dos quartos do Castelo de Windsor, mas parece não incomodar ninguém.
O fantasma do Long Walk
A lenda já tem 95 anos e é sobre a vista da fachada sul do castelo, no Long Walk do Parque de Windsor. Em 1927, um guarda de 18 anos, patrulhando a área à noite, foi tomado pela melancolia e atirou em si mesmo. Algumas semanas depois, um colega dele, o sargento Leake, recebeu o mesmo serviço noturno. No final de seu turno, ele ficou satisfeito ao ouvir os passos do que ele presumiu ser seu substituto. Em vez disso, se viu de cara com o jovem suicida. Enquanto ele olhava com espanto, o alívio genuíno apareceu e o fantasama desapareceu. De volta ao quartel, ele relatou sua experiência a vários outros sentinelas, que alegaram ter testemunhado manifestações de seu associado morto. Ao lado da de Herne, é a lenda mais sinistra entre os fantasmas de Winsdor.
A cozinha
Na cozinha do Castelo já foram reportados aparecerem um homem, uma menina, uma senhora de branco e até um cavalo. O último não é tão bizarro assim. Antes de ser cozinha o local foi um dos estábulos da cavalaria do Castelo. Então faz sentido!
O susto na sentinela
Há um relato de abril de 1906, que uma sentinela estava de plantão perto da entrada principal do castelo quando um grupo de homens apareceu do nada e começou a caminhar em direção a ele. Pensando que eram intrusos, a sentinela os desafiou, mas eles continuaram avançando. Quando eles ignoraram seu terceiro desafio, ele engatilhou seu rifle e atirou na figura principal, que parou momentaneamente, mas depois continuou em frente. Erguendo sua baioneta, o soldado atacou o grupo, que desapareceu no ar. Ele relatou a experiência ao seu comandante, que realizou uma busca em grande escala no castelo e nos terrenos, mas nenhum intruso foi encontrado. Pela história fantasiosa a sentinela foi confinada ao quartel por três dias como punição. Será que viu fantasmas?


Estátuas na Capela de São Jorge
Essa história vem de 1873, quando um visitante do Castelo notou que quatro novas estátuas haviam sido colocadas na Capela de São Jorge. Ao se aproximar, reparou que eram pretas e que embora três delas estivessem de pé, uma estava agachada e uma das três de pé segurava a espada como se fosse atacar a figura agachada. Quando o visitante passou por um guarda, perguntou sobre as estátuas, mas descobriu que não havia estátuas novas, muito menos como descritas. Ao voltarem para verificar, as imagens tinham ido embora. Será que um dia estiveram ali mesmo?
Outros fantasmas no Castelo de Windsor
Dizem que o Portão Norman, perto da Torre Redonda, é assombrado por um desconhecido prisioneiro da Guerra Civil do período de Charles I, mas apenas as crianças podem vê-lo, os adultos apenas o sentem passar por eles. Também foram relatados passos de fantasmas ouvidos na Torre Curfew e que o arquiteto William de Wykeham, morto em 1404, ainda anda pelo castelo, verificando se ainda está tudo bem.
Diante desses relatos, podemos concluir que, pelo sim ou pelo não, quem vive em Windsor têm que ter coragem… ou muita fé.