Tem gente que não gosta de The White Lotus ou até diz que não entende seu sucesso. O fato é que Mike White usa simples dilemas para ilustrar a complexidade de todas as relações humanas, sejam sexuais, amorosas ou simplesmente sociais.
Na primeira temporada o conflito de gerações era o oxigênio que deixava paradoxalmente o ar para os hóspedes tão rarefeitos. A dificuldade de comunicação, a fachada de felicidade e a intimidade de dúvidas, além de uma tóxica batalha de poder/direito que culminou com a morte de Armand. Na segunda sabemos que há mais vítimas – ainda não reveladas – e nunca a verdade foi tão solitária e a mentira tão conveniente. Há gerações de jovens tentando ensinar aos mais velhos “o que mudou”, há a geração X no meio do caminho, mas mais do que tudo o que está no centro do palco é a velha dicotomia da honestidade ou falsidade e mais uma vez, de forma brilhante.


Todos os hóspedes e funcionários da temporada lidam com fachada e bastidores, em um palco de uma ópera trágica anunciada. O que vemos é que há os casos onde a mentira afasta (Greg e Tanya, Albie e Dominic) e onde a verdade também traz isolamento (Harper e Ethan). Harper está tão obcecada na honestidade como tradução de felicidade e amor que não percebe que o mistério da dúvida poderia acender a mais do que morta vida sexual com seu marido. Nem mesmo com todas as dicas de Daphne ela aceita ou pesca a mensagem. Enquanto isso, bem velha escola, Cameron e Daphne vivem a fachada de que são apaixonados, ignorando mutuamente verdade incômodas, mas mantendo um casamento onde há conexão física. O que é melhor?


Tanya, que vem da primeira temporada no Havaí, se questiona sobre onde errou lá enquanto a vemos cair diretamente em uma óbvia armadilha liderada por Quentin. Ele quer a fortuna dela, certamente, mas sendo abertamente gay como ele pretende alcançar seu objetivo? Me deu muito medo sua declaração de que “coleciona belas coisas” e que “um mundo sem beleza não é um mundo onde quer viver”, antes de buscar a concordância de Tanya. A milionária não esperava ser seduzida por Quentin – mas está apaixonada pelo seu estilo de vida – mas por causa das longas conversas com ele já considera anular seu casamento com Greg e, quem sabe, considerar o que Quentin sugere a maior felicidade: companheirismo.
Quentin lembra muito o Osmond de Retrato de Uma Mulher, em versão gay. Quem ainda não tinha sacado que seu “sobrinho” Jack era o michê do grupo estava muito distraído. Se é que há mesmo uma ligação sanguínea entre eles, Jack já tinha mencionado para Portia que estava no grupo servindo a homens ou às velhas senhoras que eles traziam para o grupo. Em outras palavras, Quentin omite a verdade para Tanya, mas Jack foi bem aberto com Portia. Mesmo assim as duas estão longe de perceber seus erros e estão isoladas com seus algozes em Palermo. Por outro lado, Tanya já foi subestimada antes.


A viagem tem sido efetivamente dura para Dominic, mas ele é o único que está trabalhando em sua redenção. Derrapou na chegada, mas está se segurando para salvar seu – já condenado – casamento. Vendo seu filho, inocente e querido, cair no que parece ser um golpe da vivida Lucia, deu um gatilho de culpa no empresário, mas embora sua verdade seja notória (um viciado em sexo), é a mentira que ele acha que pode salvá-lo. Dominic está no limite, ele é um perigo no resort.
Cameron é um mentiroso compulsivo que – como Ethan finalmente diz – só almeja conseguir o que o ex-colega de faculdade tem. O que realmente quer é o dinheiro e status de Ethan, mas, sabendo onde está a falha do amigo (sexo), é onde sempre vence. Desde o início estava em um jogo de sedução com Harper e agora está abertamente fazendo a movimentação kamikaze. Já falamos de Harper e Ethan, e aqui minha mea culpa. Desde o início aponto para que há algo de mentiroso e complexo que em vez de afastar Cameron e Ethan, os une. Considerei um caso de amor do tipo Brokeback Mountain, que depois do episódio 5 parece estar errado. Ethan confessou para Harper o que houve entre Cameron, Lucía e Mia, mas nenhum dos dois fez nenhuma menção para a parte da manhã na qual Cameron veio para a cama de Ethan. O ciúme é, pelo que parece nos trailers, sobre o triângulo amoroso heterossexual (Harper, Cameron e Ethan), mas, a virada ainda é possível.
Faltam apenas dois episódios até a conclusão da temporada. Os golpistas atrás de dinheiro (Quentin, Cameron, Lucia) têm suas vítimas em mãos (Tanya, Ethan, Dominic) e há forças externas como o cafetão de Lucia, que estão se aproximando ameaçadoramente. O resultado promete ser surpreendente… qual a sua aposta?