Em 10 anos de Game of Thrones, os episódios mais violentos são difíceis de digerir. O ranking de mortes da saga em geral é lembrado primeiro pelas mais sangrentas ou vingativas. Mas o fato é que por temporada – foram 8 – a lista de vítimas e algozes se mescla assustadoramente. Até porque, em GOT, há muita complexidade quando se fala de “merecimento” ou tragédia.

Quando jovem, Ned Stark, por exemplo, matou inocentes seguindo a vingança de Robert Baratheon (que insistia que Lyanna Stark tinha sido sequestrada e violentada por Rhaegar Targaryen), mas todos colocam a sua execução no topo das injustiças em Westeros. A lista é realmente longa.

Entre os indiscutivelmente inocentes estão Rickon Stark, Hodor e Shireen Baratheon, cujas vidas foram encurtadas por circunstâncias fora de qualquer coisa que possam ter feito. Rickon foi tirado de Winterfell ainda com 5 anos, tendo perdido pai, irmãos e mãe, fugindo pelos bosques de inimigos e White Walkers, mas em tese assegurado uma proteção quando vai ficar com antigos apoiadores de sua Casa. Como ele poderia saber ou responder por decisões de Robb Stark? Mas foi o que aconteceu, sendo assassinado na frente de Jon Snow, para o prazer de Ramsay Bolton.

Hodor, como descobrimos depois, graças à Bran Stark em suas viagens não planejadas no tempo, ficou preso em um loop no qual revive sua morte – que é sacrificar-se para salvar Bran do Night King – por décadas. Seu “apelido’, é um reflexo da única palavra que passou a falar desde que teve uma convulsão – hodor, hold the door (segure a porta) – que foi a ordem que recebeu para que Bran pudesse escapar. Sim, é mais uma crueldade do Rei Bran, o quebrado, cuja ascensão ao trono permitiu que Daenerys matasse milhões em King’s Landing e que Jon Snow, o verdadeiro herdeiro do trono, fosse exilado e manchado com o nome de assassino de rainhas.

Mas me desculpem os que choram por Hodor, a morte mais traumática, violenta e apavorante para mim é a da princesa Shireen Baratheon. A jovem, marcada no rosto por  Escamagris, uma doença que quase tirou sua vida ainda bebê e que a deixou “feia” e isolada, amava profundamente seu complicado e ambicioso pai, Stannis Baratheon. O frio e distante Stannis e sua esposa, Selyse Florent ficaram vulneráveis à Melisandre e a fé no Deus do Fogo, R’hllor depois de perderem todos seus filhos, menos a menina. Selyse não consegue se conectar com ela (pelo menos na série), mas Stannis ama a filha, que estuda a história de Westeros e é fãs das fortes mulheres Targaryen.

Na breve guerra civil entre os irmãos de Robert (Stannis mata seu irmão caçula, Renly Baratheon) Shireen, como última Baratheon legítima, passaria a ser a herdeira do Iron Throne, e ela apoiava a luta de seu pai pelo Poder. Porém ela é escolhida como o maior sacrifício para que Stannis consiga o Trono: precisa ser queimada viva.

Inacreditavelmente ele aceita o desafio e a menina concorda sem saber o que está para acontecer. Quando se dá conta, é tarde demais.

O episódio para mim é até hoje o mais violento de todos, o que não consigo assistir. Foi exibido nos Estados Unidos no Dia dos Pais, uma coincidência infeliz e quase de mau gosto da HBO. A morte de Shireen foi inútil e absurda. Renly estava brigando com Stannis, mas ela não. Sua morte provocou o imediato suicídio de sua mãe arrependida e em seguida o abandono dos soldados de Stannis, chocados com o que ele aceitou fazer para conseguir poder, Sem surpresa ele foi derrotado na batalha e morto por Brienne de Tarth, que vingou Renly.

Se tivesse sobrevivido, Shireen poderia ser uma ameaça para Daenerys e para Cersei, afinal era princesa legítima de um Baratheon. Cersei a teria sacrificado, mas diante da admiração da menina pela Casa Targaryen e seu conhecimento, quem sabe como ficaria com Daenerys? Jamais saberemos. Não fosse a existência de Gendry, seu primo bastardo legitimado por Daenerys, a Casa Baratheon teria morrido com ela. Um sacrifício sem propósito, apenas uma violência provocada por ambição e histeria. Shireen merecia mais!