O universo histórico que George R.R. Martin criou para Game of Thrones em seus livros que completam a saga A Song of Ice And Fire, são riquíssimos de personagens e contos que os fãs discutem no Reddit e redes sociais. A premiada série da HBO foi forçada a acabar ANTES dos livros finais serem escritos, mas isso porque o autor está levando mais de 15 anos para fechar a história o que gera um argumento popular de que o final polemizado que desagradou muita gente seria causado pelo atraso. Seja como for, a série foi exibida entre 2011 e 2019, em oito temporadas e segue uma das mais vistas da plataforma e mais adoradas da História.

Para criar uma narrativa dramática que coubesse paraTV e o orçamento de produção, D. B. Weiss e David Benioff criaram a série alterando alguns elementos dos cinco livros de Martin (eliminaram personagens, trocaram acontecimentos de alguns para outros, deixaram alguns que morreram viver, e ao contrário, etc), e também usaram materiais não publicados baseados no que o autor descreve sobre eventos futuros em seu universo literário. Embora exista quem questione e até declarações de Martin que sugiram o contrário, a conclusão da história foi feita com o que os showrunners tinham como a desenhada pelo escritor para o final da saga. “Felizmente, conversamos sobre isso com George há muito tempo, desde que vimos que isso poderia acontecer e sabemos para onde as coisas estão indo. E então, basicamente, nos encontraremos praticamente no mesmo lugar para onde George está indo; pode haver alguns desvios ao longo do percurso, mas vamos para o mesmo destino. Eu meio que gostaria que houvesse algumas coisas que não tivéssemos que estragar, mas estamos meio que presos entre a cruz e a espada. O show tem que continuar. . .e é isso que vamos fazer”, disse Benioff em Oxford, ainda em 2015.


Já escrevi muito sobre o final de Game of Thrones e como o plano de George, que ainda não lançou o livro mesmo em 2023, “perdeu” com o atraso porque passamos por uma grande virada cultural em 2018, em especial com o movimento do #metoo, deixando muito do que era abordado na história – abuso sexual, abuso psicológico, machismo, feminicídio, preconceito – datado e questionado. D&D tentaram adaptar o que foi possível, crescendo a liderança feminina na série (Sansa, Arya e Cersei), mas mantendo a inversão da grande personagem da história, Daenerys Targaryen (Emilia Clarke) que iria de heroína à vilã, para reforçar o lema do autor: todo vilão é o herói do lado oposto. Enquanto ela estava em Essos, era divina. Ao chegar em Westeros, era outra. Obviamente é um resumo exageradamente simplista. Mas dentre várias polêmicas da conclusão, ficou a morte e a loucura de Dany, traída por Jon Snow (Kit Harington).
Sou uma das que lamentou as mudanças que afetaram a trajetória de Jon Snow e que ficou insatisfeita com o final dele na série. Por isso celebrei que o Kit tenha imediatamente reunido um time criativo para criar uma sequel curta, chamada momentaneamente de Snow. A série ainda em desenvolvimento, vai abordar o estado mental e as consequências da escolha de Jon após a conclusão da série e foi confirmada pela HBO que está sendo avaliada. Aí veio novas mudanças.


A fusão da Discovery com a Warner Bros interferiu artisticamente nos projetos em andamento. Embora a franquia de GOT seja importante e lucrativa, está sendo avaliada pela ótica financeira mais do que artística. House of the Dragon, o spin off que saiu de um dos capítulos do livro Fogo e Sangue, de 2018, foi ao ar em 2022 (a segunda temporada começou a ser rodada essa semana), mas nem mesmo seu estrondoso sucesso garante seu futuro. Apenas a segunda temporada foi aprovada (Martin quer quatro) e só segue em frente se mantiver os resultados, portanto Snow ainda tem muito a encarar antes de sair do papel.
Mas o principal obstáculo pode ser provar como um trauma geral pelo final rejeitado de Game of Thrones. Antes de House of the Dragon, falaram de seis projetos em torno do universo de Martin e o aprovado Bloodmoon, chegou a ter um piloto gravado em 2018, mas foi descartado e substituído por House of the Dragon em 2019. Bloodmoon, seria ambientado 8 mil anos antes de GOT e falaria os eventos onde surgiram os Nightwalkers, a Longa Noite. Talvez porque tivesse apenas um ano e a onda negativa estivesse no auge, ou porque oito mil anos é um gap muito aberto, a série nunca passou do piloto escondido. A escolha de House of the Dragon foi segura e acertada porque é sobre a família de Daenerys e Jon, mas está distante o suficiente para ter nomes e cenários comuns, com uma trama independente e rica por si só.


Por isso, sem surpresa, mesmo com toda conversa em torno de Snow, o próximo conteúdo a ser explorado pela WBD é um dos livros mais populares da saga, O Cavaleiro dos Sete Reinos. Há décadas fãs imploram para que as aventuras e a amizade entre Ser Duncan the Tall e seu escudeiro, Egg (na verdade, Aegon Targaryen V), saiam do papel para as telas. Na mesma semana que House of the Dragon é retomada (sem anúncio de elenco), o próprio George R. R. Martin confirmou que vai liderar a próxima produção. A essa altura, podemos esquecer que ele terá tempo para terminar o último livro de Game of Thrones…
O Cavaleiro dos Sete Reinos terá como base as histórias do lendário cavaleiro e o príncipe disfarçado de escudeiro viajando por Westeros em missões e aventuras que acontecem mais de 100 anos antes dos eventos principais de Game of Thrones. Eu gosto de imaginar que teremos Jenny of Oldstones nas telas também!


Antecipar outra produção cuja base de fãs ama antes de trazer histórias originais demonstra que a WBD quer jogar com segurança. A diferença está que enquanto Bloodmoon foi descartado, Snow ainda está no horizonte, a questão é criar a distância mesmo de GOT. Além da história de Jon Snow, há um projeto de uma série animada (não temos ainda que período da História seria) e uma série sobre a Conquista de Aegon, que os fãs querem Henry Cavill estrelando a todo custo.
A ver se Kit Harington ainda vai mesmo considerar voltar ao seu papel original mais de dez anos depois. Sério! Afinal, com tudo que está sendo gravado, é difícil imaginar que Snow chegue ao ar antes de 2027. Será que ainda nos importaremos com sua dor até lá? O que fica mais do que sugerido é que ainda está cedo para uma revisitação. A saudade é a melhor alternativa.