“George III é amplamente lembrado por duas coisas: perder as colônias americanas e enlouquecer. Isso está longe de ser toda a verdade“.
A descrição acima é do site da Família Real britânica. Sobre a independência americana, há divergências sobre a responsabilidade do monarca sobre “perder a colônia americana” e sustentar a guerra contra a França, mas, sobre sua sanidade – ou a perda da – é um fato. Até hoje se discute a natureza do problema, identificado em surtos entre 1788-89, depois em 1801 até que, de novo usando as palavras oficiais, ” e incapaz de governar. Outro fato? Seu casamento feliz com a Rainha Charlotte, que é justamente o tema da nova minissérie da Netflix, classificada como “uma história Bridgerton”. Muitas das informações sobre o casal na série estão corretas, aliás.
Rainha Charlotte tem apenas seis episódios viaja no tempo entre passado e presente, recontando como a soberana chegou da Alemanha para se casar com o jovem Rei, como se apaixonaram e sim, como foi a delicada questão da saúde dele. Amarrada com o conteúdo original de Bridgerton, não há como acabar sem estar emocionada e com sentidas lágrimas rolando no rosto. É romântica, é triste, é inspiradora e perfeita. Sim, é melhor do que Bridgerton. Mas voltemos à George.


Assim como na série e na peça (de 1991) e no filme (As Loucuras do Rei George, de 1994), não é nunca esclarecido o que tirou a sanidade de George III. Uma corrente – a mais comum – aponta que a instabilidade mental dele foi causada por um distúrbio físico hereditário chamado porfiria. Outra, aposta em bipolaridade, algo que só encontrou definição mais apurada no século 21. Seja como for, como vemos nos relatos, o rei sofreu duplamente: pelo mal que o afligia e pelos métodos dolorosos e ineficientes para tentar tratá-lo.
Como muitos sabem, a árvore genealógica da Família Real britânica é essencialmente, alemã. Tanto que George III, foi efetivamente o primeiro da linha hanoveriana a nascer em Londres e a usar o inglês como primeira língua. Com a morte de seu pai em 1751, antes que ele se tornasse rei, foi George que acendeu ao trono, em 1760, com apenas 22 anos. Obviamente, uma das primeiras decisões foi a de encontrar uma noiva. A eleita foi Sophia Charlotte of Mecklenburg-Strelitz, de um pequeno ducado alemão e que tinha apenas 17 anos.
Charlotte chegou à Inglaterra em 1761, depois de uma viagem difícil, marcada por tempestades e outros desafios. A cerimônia de casamento foi realizada poucas horas depois de seu desembarque, na Capela Real do Palácio de St. James. Os dois foram coroados em setembro e no ano seguinte, nascia o primeiro dos 15 filhos que vieram a ter juntos. Embora o St James Palace fosse a residência oficial do casal real, George III presenteou Charlotte com uma propriedade próxima, a Buckingham House, que com o nascimento de George IV, passou a ser chamado de Palácio de Buckingham (ou ‘A Casa da Rainha’). Antes de voltar para os dois, mais uma curiosidade imobiliária que os especialistas da Família Real vão apreciar. Foi a rainha Charlotte que comprou a Frogmore House, em Windsor. Mas voltemos ao casal.
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Seria natural que a relação entre George e Charlotte fosse fria ou apenas amigável, mas por todos os relatos se percebe que era uma união de amor e o rei era completamente dedicado à esposa e filhos. Podemos até dizer que Rainha Charlotte da Netflix mostrou muito bem a história de amor dos dois. Ambos eram amantes da leitura – George é considerado um dos monarcas mais cultos da História, com uma coleção de cerca de 65.000 livros, posteriormente doados ao Museu Britânico) da Arte (o rei fundou e pagou os custos iniciais da Royal Academy of Arts), e da Música (sim, eles gostavam de Handel, sim o mestre de música da Rainha era Johann Christian Bach, e SIM, com apenas oito anos Mozart se apresentou para Charlotte, como mostrado em Bridgerton). Mozart dedicou seu Opus 3 à Rainha. Além disso, George III foi o primeiro rei a estudar ciência e ter seu próprio observatório astronômico (como na série) e Charlotte era apaixonada por botânica, tendo reformado os jardins de Kew Palace (conhecido na época como Dutch House). Outro ponto correto da narrativa de Rainha Charlotte foi mostrar a paixão do rei por agricultura, que rendeu seu apelido de ‘Farmer George’.
Quando se casaram, a instabilidade da saúde mental de George III era um segredo mantido até mesmo de sua esposa. Sua primeira e temporária crise aconteceu nos primeiros anos que estavam juntos, como mostra a série. O receio de como ele ficaria provavelmente estava por trás de um projeto de lei de 1765 que passaria a regência para Charlotte no caso do rei passar a ser permanentemente incapaz de governar, algo que gerou um conflito que Bridgerton não mostra, afinal só acontece 13 anos depois da série, mas que é o coração da história da peça e filme, As Loucuras do Rei George. O que aconteceu foi que, em 1788, durante uma das crises do Rei, a rainha e o príncipe de Gales discordaram sobre quem ficaria com a regência. A Rainha teve a vantagem e George “voltou ao normal”, mas a partir de 1811, a loucura ficou permanente e seu filho passou a reger a Coroa.
Charlotte cuidou pessoalmente do marido até sua morte, em 1818. George III, que estava cego nos últimos anos, morreu apenas dois anos depois da Rainha. Os dois estão enterrados na Capela de São Jorge, no Castelo de Windsor.

O legado político de George III é tão controverso como a dúvida do que era efetivamente seu problema de saúde, que, por conta do segredo, tem poucos dados para ajudar no diagnóstico retrospectivo. Por muitos anos, depois de descobrir os altos níveis de arsênico nos restos mortais do monarca, especialistas apontam com firmeza que seus surtos eram provocados por porfiria congênita, afinal há mais casos nas Casas reais de Stuart, Hanover e da Prússia, da qual o rei fazia parte. Porém, porque arsênico era um remédio comum na época e porque segundo o primeiro registro documentado, de 1855, havia a conclusão de que o Rei sofria de “mania aguda”, hoje é mais aceito que o problema de saúde do Rei George III era transtorno bipolar. Na verdade, ele poderia ter as duas coisas. Rainha Charlotte não entra em detalhes o que está acontecendo e em As Loucuras do Rei George, os créditos dizem que ele tinha porfiria, descrevendo a doença como “periódica, imprevisível e hereditária”.
Seja como for, o que é lindo é resgatar o amor entre ele e Charlotte, que é totalmente verdade e uma história de amor necessária para dias desesperançosos. No lado do coração, não havia loucura nenhuma. Apenas amor incondicional. Lindo.
Não vi nada nessa série. Chata, centralizada em poucos personagens, confusa.
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É romântica, emocionante. Mas te entendo, a Shonda manteve a fórmula de Bridgerton, mas em Rainha Charlotte eu considero que funcionou melhor. Mas te entendo!
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É incrível poder ler o que escreveu e saber que a maioria das belas coisas que vi foram reais.
Acabei de assistir a série e foi encantadora toda trama. Adorei seu texto e agradeço pela postagem!
Abraços♡
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Por isso me emocionei tanto quando vi porque sabia identificar como a Shonda Rhimes conseguiu manter a verdade, como conseguiu fantasiar cm respeito e entregar uma série perfeita. O que ela excluiu (as questões políticas) não fazia diferença. Há duas grandes histórias de amor na monarquia britânica, a de George III e Charlotte e a de Henrique VII com Elizabeth de York. Foram casamentos arranjados que viraram amor sincero e eu sou uma romântica inveterada, ADORO amores verdadeiros rs… que bom que gostou do post!!!!
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Olá,errado o ano que Charlotte chegou na Inglaterra para se casar com George .
Seria legal corrigir
Joseli
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farei isso, obrigada por sinalizar!
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Amei assistir essa serie
Relata com precisão muitos fatos.
Simplesmente encantada.
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