Há uma cena em meio às lágrimas do segundo episódio de And Just Like That em que uma amiga de Carrie, indignada pelo heroísmo rendido à memória de Mr. Big, pergunta à outra mulher: “Sou a única que lembra como ele foi um horror com ela?”. Uma frase muito importante que fez – e faz – toda diferença.
A relação de Carrie e Big foi tóxica em todos os sentidos. Um homem que não assumia compromissos, que jamais a incluiu em planos imediatos (fosse quando foi para Paris ou quando decidiu ir embora para Califórnia), acompanhamos a escritora a tentar arduamente esquecê-lo, quase conseguindo algumas vezes, mas sempre caindo na armadilha da amizade ou sexo casual. Por anos, Mr. Big empatou a vida de Carrie, enquanto a dele seguia muito bem, obrigado. Como torcemos pelo final feliz dos dois?



Porque o elemento Charlotte de todas nós sonhava com Carrie “mudando” o homem errado em certo. Big teve todas as chances do mundo de fazer Carrie feliz, mas precisou que ela fosse embora para a França com outro homem para que ele – mais uma vez – a impedisse de seguir em frente. Porém aí os dois engataram em um relacionamento aparentemente saudável, tranquilo e que virou casamento.
Ah… o casamento. Vamos lembrar que Mr. Big abandonou Carrie no altar porque teve medo de se comprometer novamente? Queria um casamento escondido? Ela foi humilhada publicamente e ainda assim, um ano depois, o aceitou de volta, nos termos dele. Achei quando vi o filme que houve muito pouco espaço para que Carrie entendesse que ser abandonada no altar – com um pássaro na cabeça – depois de ter sido a noiva do ano da Vogue, não dava para perdoar com e-mails usando cartas de amor de outras pessoas, deixando o original falando apenas “me perdoa”. E ela perdoou.


No segundo longa, sempre falei que Mr. Big estava muito descaracterizado. Ele estava como o maridão tranquilo, aceitou que Carrie quase o traiu porque “faltava a aliança certa” e os dois seguiram “felizes para sempre”. Honestamente, alguém poderia questionar se Carrie era mais apaixonada pelo lifestyle do que realmente abrir os olhos.
Assim chegamos a And Just Like That, onde o primeiro episódio mostra o casamento idílico que a escritora sonhou, interrompido pelo coração do marido (uma péssima metáfora, mas o coração dele pifou). Em meio às lágrimas (sim, chorei), o segundo episódio foi todo conduzido para nos fazer pensar apenas nos momentos bons (eu mesma fiz uma lista deles!) e, quando chegamos ao terceiro, Carrie volta a ver Mr.Big como ele era: um homem de segredos, de personalidade indomável e que ela jamais compreendeu completamente. Precisava demorar tanto?

Em tempos de cancelamento, como Mr. Big estava escapando tão facilmente? E como parece karma, ao decidirem trazer vários elementos reais para a trama de And Just Like That (a briga entre Sarah Jessica Parker e Kim Cattrall, transportada para Carrie e Samantha, o homossexualidade de Miranda, entre outros) as acusações de estupro e assédio para o o ator Chris Noth vieram muito em tempo com o episódio que pretendia desconstruir a imagem romântica de Big.
Até o momento, duas mulheres acusam o ator de as ter violentado durante encontros, uma delas quando ele já estava casado. As vítimas admitem que se aproximaram de Chris Noth com a imagem romantizada de Mr. Big na cabeça, apenas para se descobrirem em um pesadelo violento. O ator, claro, nega o estupro (mas admite as relações sexuais), e novas testemunhas de seu comportamento inadequado estão vindo à público. A lua de mel com ator e personagem parece ter chegado ao fim, com muitas mulheres agradecendo a sua morte. Aliás, se pensarmos que uma das críticas da estreia foi o detalhe de que Carrie, em vez de chamar por ajuda, apenas olhou o marido morrer na sua frente, parece até castigo!
Chris Noth e Sarah Jessica Parker são amigos na vida real e, pelo que vimos, ainda filmaram mais cenas românticas entre Carrie e Big, mesmo aludindo um novo amor para a personagem. É, and just like that, cancelamos Mr. Big. Já era hora.
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