A fórmula nostálgica de Stranger Things

Um dos importantes elementos de sucesso de Stranger Things é a inteligência com que lidam com a nostalgia. Para a geração X, hoje criando os millenials, passou a ser um conteúdo que conecta o universo polarizado entre migrantes digitais e nativos. Para quem viveu os anos mostrados na série, é preciso elogiar sem parar como é uma perfeição como recriaram aquele período de músicas maravilhosas e moda duvidável. Nada, mas nada mesmo, está fora do lugar.

Encaminhando para sua conclusão, a série cativou o mundo, criou estrelas, recuperou outras e não pára de criar confusão na pequena Hawkins. Como o mundo ainda não invadiu a cidade se explica porque não era um mundo conectado. Em eras pré-digitais, monstros literais e metafóricos eram “locais” antes de virarem famosos.

A química dos atores é inegável, mas a fórmula se repete. Para quem viveu os anos 1980s, em especial, além da trilha sonora, é possível antecipar as respostas. Eleven segue como o drama científico, pesado, totalmente Stephen King e com referências a Carrie e outras obras do autor. Se começamos Stranger Things com uma certa atualização de Stand By Me, estamos revivendo o Pesadelo em Elm Street, franquia de terror que traz inclusive sua estrela, Robert Englund, para o elenco.

A sinopse nos localiza: começamos seis meses depois da sangrenta batalha de Starcourt, que mudou radicalmente a vida de todos em Hawkins, mas uma nova ameaça sobrenatural vem à tona e reabre os portais para o temido Mundo Invertido. Com sagacidade, a temporada dá mais destaque para a talentosa Sadie Sink (Max Mayfield) e outras personagens e “separa” as gangues – por hora – para um certamente épico reencontro na segunda parte.

Dessa forma, temos quatro aventuras paralelas e conectadas: Eleven (Millie Bobby Brown) de novo no laboratório e recuperando seus poderes; Joyce (Winona Ryder) no resgate de Jim Hopper (David Harbour), Max, Nancy (Natalia Dyer), Dustin (Gaten Matarazzo), Steve (Joe Keery), Robin (Maya Hawke), Erica (Priah Ferguson) e Lucas (Caleb McLaughlin) lidando com os problemas em Hawkins enquanto Mike (Finn Wolfhard), Will (Noah Schnapp) e Jonathan (Charlie Heaton) tentam ajudar Eleven. Bem amarrados, bem interpretados e divertidos.

A quarta temporada amarra alguns dos crimes “soltos”, mas o que os irmãos Duffer ilustram é que as culpas e conflitos mal resolvidos do passado, são, literalmente, a abertura para um pesadelo lúcido. Com isso, temas como suicídio, drogas e pertencimento são abordados no meio de tanta confusão.

Em particular, desde o lançamento da série, em 2016, Noah Schnapp tem brilhado como o sensível e complicado Will Byers. Foi seu desaparecimento que deu o pontapé para que coisas estranhas acontecessem ininterruptamente, mas foi sua volta que trouxe a nuance da personagem. Lidando com a descoberta de sua homossexualidade, ainda secreta para os mais próximos, para Will o passado infantil e livre com seus amigos o permitia estar perto de seu amor platônico, Mike. Enquanto os amigos superam os dramas de adolescência, para Will, o pesadelo só aumenta. A atuação de Noah se destaca em meio às confusões aventurescas da trama. Torço para seu reconhecimento. E aguardo a conclusão de tantos resgates e surpresas. Como vemos, é possível sair de Hawkins, mas Hawkins nunca deixa você. Poderia haver coisas ainda mais estranhas que isso…

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