Atenção redobrada com Henri de Montrachet em Ligações Perigosas

É divertido ver os futuros vilões, Marquesa de Merteiul e Visconde de Valmont como mocinhos em meio à pessoas ainda piores que os dois. Em Ligações Perigosas originais, eles eram insuperáveis em cinismo e maldades, mas na série da Lionsgate Plus ainda são aprendizes.

Infelizmente nos aproximamos no final da 1ª temporada, com dois vilões de assustar: Jean, o Marquês de Merteiul e Henri de Montrachet, o futuro cirurgião do Rei da França. Que os dois atores já tenham nos dado medo em Game of Thrones é apenas um detalhe. Com reviravoltas incríveis, Camille parece estar à frente de Valmont. Os dois amigos e amantes, competem entre si para descobrir o ponto fraco do outro. Como Camille não revela o que aconteceu na casa dos Montrachets, Valmont está inclinado a – assim como Jacqueline – a comprar a versão de Henri, um médico respeitado e que aparentemente seduziu a futura marquesa. Obvio que a verdade é outra, mas por hora a meta parece ser uma vingança e obsessão por um homem casado. Voltaremos ao tema.

Os Montrachets terão protagonismo

Interpretado por Tom Wlaschiha e descrito apenas como um “carismático, charmoso e ambicioso cirurgião”, Henri tem total controle sobre a mente e comportamento de sua esposa, a piedosa Jacqueline (Carice Van Houten). Desde que vimos os flashbacks de Camille, descobrimos que ela “adotou” a jovem que estava em um orfanato, mas que a jogou nas ruas sem dó, mesmo diante da tentativa de suicídio da jovem. Camille guarda um rancor profundo de Jacqueline e está determinada em destruí-la.

Quando as duas se reencontram nas ruas (e Camille joga sangue nela), Jacqueline é gaslit por Henri, que questiona o que ela viu e a acusa de estar perdendo o controle emocional. Ele parece preocupado, mas sua insistência em duvidar de sua esposa pareceu suspeito. E agora que sabemos que Jacqueline descobriu que Camille e Henri estariam de caso, ela logo culpou a jovem de ter o seduzido, ignorando as lágrimas de Camille alegando que não era essa a verdade. Já fecho aqui: Camille foi abusada sexualmente por Henri, que pode inclusive a ter torturado em meio as suas “pesquisas científicas”.

E aqui está a questão importante. O livro Ligações Perigosas foi escrito por Pierre Choderlos de Laclos, que convivia com os nobres e foi tão preciso na sua escolha de contar a história através de trocas de cartas que muitos acreditavam que eram cartas reais, com nomes trocados por proteção. A Rainha Maria Antonieta era uma das fãs do escandaloso livro e foi esperto vê-la dragada para a trama da série. Exatamente porque nós sabemos desses detalhes e que ela era uma mulher odiada pelo povo, acusada de uma vida sexual ativa e diversa, como sugere Ligações Perigosas. Outro personagem verdadeiro é o espadachim e músico negro, Chevalier de Saint-Jacques (Fisayo Akinade), que foi mesmo o compositor preferido da rainha.

Mas voltemos à Henri. Ele pode ser inspirado – muito sem compromisso- em Pierre-Toussaint Navier, o médico particular de Louis XVI e Maria Antonieta. Conhecido como ótimo químico e cientista, descobriu o éter nitroso (entre outros processos medicinais) , desenvolvia teses e pesquisas que estão até hoje nas Coleções da Academia Francesa de Ciências da academia de Châlons, e na Gazette de médecine. Na série, fiquem atentos: ele não é o que parece ser.

Já Jacqueline – antecipando a Madame de Tourvel – caiu facilmente no jogo de Valmont e está apaixonada por ele. O problema é que sua caridade deu gatilho em Pascal (Nicholas Denton). Descobrimos que o Visconde não apenas perdeu sua mãe ainda jovem como a viu ser assassinada na sua frente por alguém que ela tentava ajudar.

Com uma conexão estabelecida entre vítima e futuro algoz, Pascal começa a se questionar sobre Camille. Ele quer entender a razão do ódio pois a versão que Jacqueline deu sobre a jovem que expulsou de sua casa parecem reais. Em vez de abrir o coração, Camille se fecha e os dois se afastam. No entanto, Henri avisa a Jacqueline que ao ser anunciado em sua nova posição eles terão que deixar Paris por Versailles, ou seja, em breve ela vai escrever para Valmont, sem desconfiar que esse era o objetivo original de tudo.

Camille: a Marquesa de Merteiul

Como sabemos qual será a posição social de Camille no futuro, qualquer sugestão que Jean se casaria com outra chegou a ser entediante. Enquanto ela seguia se contentando com “pouco”, é justamente Ondine que a questiona sobre deixar passar a oportunidade de ganhar um título tão importante deixando outras se candidatarem a se casar com o Marquês. Claro, apenas Camille tem a verdadeira noção de quanto ele é perigoso, mas ao ver que não terá apoio nem poderá confiar em ninguém, dá sua cartada final. Como ele mesmo diz, com os dois unidos, a França deveria ter muito medo deles.

O jogo está apenas começando

O episódio 7 foi o melhor de toda temporada, com ritmo, técnicas de gravação (a cena da caçada era de duplo sentido o tempo todo e feita em tomadas sem cortes aparentes). Espetacular. Onde vejo a falha?

Sendo purista, ainda não encontrei o sentido para a obsessão de Gabriel Carré com Camille, um Javert apaixonado que não acrescenta. E trazer desde já personagens como o Chevalieur Danceny e Cecile de Volanges também ficou vazio, afinal, eles são jovens e inexperientes quando Camille e Pascal os usam para suas apostas amorais alguns anos à frente. Mas, diante de todo o resto, podemos olhar para o outro lado quanto à isso.

Extremamente bem atuado e bem escrito, Dangerous Liaisons é um sucesso. Que bom que teremos mais!

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