Em Spencer, Kristen Stewart vive uma Diana como ainda não vimos

Como será publicado em CLAUDIA.

Tudo sobre o filme Spencer parece ter um pé na polêmica. A começar por ter escalado Kristen Stewart para o papel da Princesa Diana. O anúncio chocou mesmo os fãs da atriz pois não tem nada a ver com Diana, nem em idade, visual ou sotaque. Mas ela topou o desafio. Pode não estar igual à princesa como Emma Corrin, em The Crown, mas está melhor do que Naomi Watts esteve em Diana.

Alguns críticos chegaram a apontar Spencer como um filme de terror e certamente é angustiante. Acompanhamos Diana sofrendo uma aguda crise psicológica, oprimida e isolada. É sufocante e nem necessariamente simpático à Diana, que é apresentada como uma pessoa desconfiada, insegura e quase paranoica. O diretor, Pablo Larraín e o roteirista, Steven Knight (autor da maravilhosa série Peaky Blinders), nos levam a acompanhar esse espiral descontrolado, que coloca a princesa em colisão com a estrutura rígida da Família Real. Aliás, os Windsors foram literalmente “calados”. São vistos sempre observando em silêncio e julgando Diana, aumentando o clima pesado que praticamente a enlouquece. Entre as personagens verdadeiras, apenas os Príncipes Charles, William e Harry têm algumas poucas palavras. No mais, o filme é de Kristen Stewart.

Ter sido excluída das indicações do SAG Awards foi injusto. A ver se reverte a situação para o Oscar. A atriz conta com o apoio de Julianne Moore, Jodie Foster e Nicole Kidman, todas em aberta campanha pró-Kristen entre as cinco finalistas. Como já escrevi aqui e em CLAUDIA, minha favorita para Melhor Atriz no Oscar seria Olivia Colman, por A Filha Perdida, mas Kristen tem mesmo uma atuação consistente (premiada em vários festivais) e merece seu reconhecimento, mesmo que não signifique que mereça “ganhar”.


Pablo Larraín já pode ser apontado como “um diretor de atores”, afinal fez outro filme sobre um ícone do século 20, no caso Jackie Kennedy Onassis, que rendeu uma indicação ao Oscar para Natalie Portman. Tanto em Jackie como Spencer, o diretor tem um olhar quase claustrofóbico sobre as duas mulheres em momentos importantes de suas vidas. Com reconstituição de época, figurinos e cenários impecáveis, Spencer é de alguma maneira o oposto de The Crown. Não estamos acostumados a ver uma Diana em outro papel que não seja a de vítima, por isso me impressionou que sua paranoia esteja tão em destaque, mesmo que, ao final, contextualizada. Depois de tantos livros, documentários, filmes e séries, Diana ainda nos move, mesmo 25 anos desde sua morte, que serão completados em agosto desse ano. Paradoxalmente, permanece fascinante e misteriosa. Na pele de Kristen Stewart, sua força está na resistência. A mesma que pára – literalmente – uma caçada e foge.

Um pequeno spoiler, que ficou mais relevante depois que o príncipe William comentou que uma de suas lembranças mais queridas de sua mãe era quando ela cantava com ele e Harry no carro. Na vida real, era Tina Turner com The Best. Em The Crown escolheram Queen com Crazy Little Thing Called Love. Em Spencer, Diana canta All I Need Is a Miracle, da banda Mike and the Mechanics, um dos sucessos do final dos anos 1980s. A escolha dessa canção foi da atriz, que a selecionou dentre as três oferecidas para a cena por Pablo Larraín. Além do óbvio recado do título da canção, Kristen gostou do contraste otimista da letra, que faz o destino de Diana ser ainda mais trágico.

Spencer demorou a chegar aos cinemas e calculo que não demore a entrar para as plataformas. Vale ser conferido de coração e mente abertas. O filme nos convida a refletir e é bem mais do que escolha de elenco.

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