Julian Fellowes decidiu se dedicar ao rico universo conhecido como o “The Gilded Age” para sua série da HBO Max, mas ele não é nem o primeiro nem o único a endereçar esse período sufocante, hipócrita e injusto da sociedade, especialmente para as mulheres. Os amigos e premiados escritores Edith Wharton e Henry James escreveram clássicos da literatura sobre esse período e obviamente seus livros serviram de base para The Gilded Age.
Enquanto algumas personagens são inspiradas em pessoas que existiram, Bertha Russell é Alva Vanderbilt, Gladys Russell será Consuelo Vanderbilt, outras são a versão criativa de nomes reais, como Caroline Astor e Clara Barton, a série certamente vai espelhar histórias contadas na literatura também. Especialmente no que se toca a Marian Brook e Tom Raikes, eu cheguei a pensar que estariam se espelhando no livro The Washington Square, um dos mais belos de Henry James, que também escreveu O Retrato de Uma Mulher, se inspirando em uma história real. Porém, para quem gosta de drama, pode ser a combinação desse com outro clássico que sirva de exemplo para o casal e lamento o spoiler… sem final feliz.
O coração do sábio está na casa do luto; mas o coração dos tolos está na casa da alegria
Eclesiástico 7:4

A Casa da Alegria e a tristeza de Lily Bart
A Casa da Alegria, no original, The House of Mirth, engana quem acredita no título. Escrito por Edith Wharton em 1905, o livro conta a trágica história de Lily Bart, uma mulher de sobrenome, mas sem fortuna, que tem que se casar com um homem rico para manter seu status na sociedade. Aos 29 anos, considerada “velha”, tem que se decidir e é pressionada pela tia conservadora, mas ela secretamente ama um advogado, Lawrece Selden, mas como ele é pobre é considerado inadequado para casamento. No entanto, ele vai ascendendo na mesma proporção que Lily vai decaindo, ao ponto em que termina seus dias mendiga, sem amigos e à margem da sociedade. Isso acontece porque Lily protege um grande segredo que pode destruir a reputação de seu grande amor, sem considerar a sua própria. O livro é de matar de lindo e triste e me preocupa muito quando vejo os paralelos entre Lily/Marian e Tom/Selden.
Lily, como Marian, comete pequenos erros de julgamento e “se expõe” para os preceitos moralistas da época. Por exemplo, Marian, se vê em um hotel sozinha com Tom, que claramente esperava passar a noite com ela e até rouba um beijo, só sendo interrompido por Peggy, tem toda a cara de que suas intenções não sejam tão nobres assim.
Em A Casa da Alegria, Lily é abordada por homens casados, desprezíveis, ou sem graça, mas não considera se casar com Lawrence porque gosta da vida de luxo que ele não pode (ainda) fornecer. Para seu choque, acidentalmente descobre que o advogado é amante de sua amiga Bertha Dorset, mas, para protegê-lo, se recusa a revelar o caso. Bertha, que não tem a mesma integridade e se ressente quando o amante a deixa, visivelmente apaixonado por Lily, se vinga invertendo a situação acabando com sua reputação da amiga. A história tem mais reviravoltas, mas o resultado é que Lily perde os amigos, a proteção da tia, se endivida e acaba morrendo íntegra, mas sozinha. O livro foi adaptado para o cinema, há 22 anos, com Gillian Anderson no papel de Lily Bart.



A Herdeira e a solidão de um amor interesseiro
Henry James criou a triste história de Catherine Sloper em 1880, no livro The Washington Square ou A Herdeira, a partir do relato verdadeiro sobre o irmão de uma amiga, a atriz Fanny Kemble. A
jovem e “feia” Catherine é herdeira de uma grande fortuna, mas é controlada pelo pai, um abusivo psicológico, que ressalta as “falhas” da filha e assusta os pretendentes, todos – a seu ver – apenas de olho na fortuna que um dia será dela. Catherine conhece o jovem Morris Townsend, por quem se apaixona e sonha se casar. O casal enfrenta a oposição do pai por anos a fio, mantendo a constância de sua união, porém, em uma jogada maliciosa, Catherine será deserdada se casar, e, para sua surpresa, Morris “se sacrifica” por amor e a deixa. Anos depois, quando Catherine finalmente é dona de toda sua fortuna, Morris reaparece, mas, a essa altura Catherine já reconhece que ele só queria seu dinheiro e não aceita as desculpas do namorado, preferindo passar sua vida sozinha.
Assim como Marian, Catherine foi avisada múltiplas vezes que deve prestar atenção aos verdadeiros interesses das pessoas que estão flertando com ela. Tom, como Morris, se apresenta como um homem pobre, com grandes sonhos, e apaixonado. No entanto Tom, diferentemente de Morris (mas parecido com Selden), disfarça sua apreciação pela vida de luxo, embora Marian já o tenha alertado que a riqueza, para ambos, possa ser passageira.
Washington Square não foi um dos livros dos quais Henry James tinha orgulho, mas foi adaptado para o cinema (rendeu um Oscar para Olivia de Havilland) e teatro, sendo considerada uma das obras mais populares do escritor americano.
O destino de Marian Brook em The Gilded Age
Marion Brook é uma das protagonistas de The Gilded Age, a história começa com ela, sendo comunicada de sua pobreza e a necessidade de se submeter e viver com as tias, em Nova York. Ela conhece Tom Raikes, que era advogado de seu pai, e ele claramente tem interesse nela, mas nada que ela retribua no momento de dor.
Passados alguns meses, Tom a visita em Nova York, avisa que está de mudança para a cidade e abertamente passa a cortejá-la. Sua tia Agnes, avisa que ele é um aventureiro que não vale ser considerado, mas Marian, que é determinada a se opor a qualquer coisa que sua conversadora guardiã fale, passa a se interessar por ele. Tom é quase um stalker, está sempre por perto e mesmo sem Marian já começa a circular entre as pessoas de influência. TODOS estranham a rapidez com que está subindo, menos Marian. Sinal mais do que vermelho!
A questão agora é tentar descobrir quem é o verdadeiro Tom Raikes e se – de fato – é um homem íntegro. Tenho receio!!!!!! São muitos sinais.
O que você acha?


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